Alckmin vai levar à Paulista a conta das mortes nas chuvas em bairros que abandonou. Por Mauro Donato

Atualizado em 12 de março de 2016 às 19:08
Francisco Morato, na Grande São Paulo
Francisco Morato, na Grande São Paulo

 

Mariana é aqui.

E ainda que a lama em municípios como Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã, São Roque, Itupeva, Atibaia, Sorocaba e Cabreúva não tenha a extensão dos danos ambientais provocados pelo rompimento da barragem da Samarco, o número de vítimas fatais pelas chuvas já é maior.

Até o momento 19 estão confirmadas (contra 18 em Minas Gerais) e o número tende a subir uma vez que 6 pessoas permaneciam desaparecidas até a noite de ontem.

Há, claro, muito mais aspectos em comum nas duas tragédias: o conhecimento prévio do risco e o comportamento inoperante, a irresponsabilidade e descaso das autoridades.

Desde 2011, o orçamento previsto para reassentamento de moradores de áreas de risco no estado de São Paulo era de R$ 65 milhões. Quanto o governador Geraldo Alckmin gastou? Zero. Nada. Traço.

Naquele mesmo ano, Franco da Rocha havia passado por desastre semelhante. Alckmin visitou a cidade e prometeu construir 300 moradias para os desalojados. Quantas casas o governador entregou? Zero. Nada. Traço.

Assim não fica difícil deduzir o porque do resultado que além de mortos e feridos, deixou outras 1.744 pessoas desabrigadas (segundo dados da Defesa Civil estadual).

Os tucanos que vêm se revezando no governo do estado mais rico do país estão se esmerando no tratamento sui generis dado ao clima.

Em 2005, o então governador José Serra firmou uma ‘parceria’ com a Fundação Cacique Cobra Coral, entidade que se definia como “esotérica-científica e especializada em corrigir desvarios do clima”. O espírito de Cobra Coral seria capaz de “empurrar uma frente fria de um lugar para o outro, fazer sumir uma iminente geada e assim por diante.” E depois quem pratica desvarios é o clima!

Em seguida, conhecedor da necessidade de obras para contornar não apenas o excesso de consumo como o período de estiagem, Geraldo Alckmin deu de ombros e deve ter apelado para as orações em busca de chuva de modo que a Sabesp não deixasse a população sem água. Deu no que deu.

Enquanto chovia a cântaros e pessoas eram soterradas, Alckmin reunia-se com Paulinho da Força (aquele) e organizadores da manifestação pró-impeachment do próximo domingo.

Durante as previsões de expectativa de adesão de manifestantes, o governador externou que seria importante que não chovesse. Em referência ao grave problema de abastecimento de água pelo qual passa o estado, nem o deputado Paulinho se conteve:

“Mas o senhor quer mesmo que tenha público, hein governador? Está torcendo até para que não chova em São Paulo.” Segundo presentes, todos riram e o governador esboçou um sorriso amarelo.

Com suas crenças esotérico-científicas e total descaso pela população na prevenção a acidentes naturais, Geraldo Alckmin (e demais correligionários) estará domingo na avenida Paulista pedindo a cabeça de Dilma. Nem tanto pela cabeça dela e sim por estar de olho na cadeira.

Será que chove?