A alegação da PF de que o inquérito sobre Teori está em Brasília é uma meia verdade. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 31 de maio de 2017 às 19:07
O enterro de Teori e a corja

A informação da Polícia Federal de que o inquérito sobre a morte do ministro Teori Zavascki está em Brasília é uma meia verdade.

De fato, um delegado de Brasília investiga o acidente aéreo que matou o ministro do Supremo, em Paraty, no início do ano.

Mas o inquérito continua sob a jurisdição da Justiça Federal em Angra dos Reis, que atende aos casos de Paraty.

O delegado que foi assassinado em Santa Catarina, Adriano Antônio Soares, foi quem abriu o inquérito, mas, por decisão interna, decidiu que uma parte da investigação fosse conduzida por um delegado especialista em acidente aéreo, de Brasília.

Na Justiça Federal em Angra dos Reis, ninguém acredita que a morte do delegado Adriano esteja relacionada ao caso de Teori. Os funcionários que o conheciam o definem como um pessoa de cabeça quente, pavio curto, uma pessoa que poderia, sim, se envolver numa confusão em casa noturna.

Mas existe, de fato, uma disputa pelo comando da investigação sobre a morte de Teori, entre a Polícia Federal e a Aeronáutica, que queria o fim do sigilo da investigação.

A Justiça concedeu a quebra do sigilo, mas apenas em relação ao trabalho do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), órgão do Ministério da Aeronáutica.

O Cenipa diz ter elementos para concluir que o avião não foi alvo de atentado, mas um acidente.

A Polícia Federal já procura outras coisas, mas até agora não encontrou nada. Tem uma perícia própria.

O delegado que comanda a investigação em Brasília solicitou a apreensão do celular do ministro, mas a Justiça negou, com o argumento de que o aparelho pertence à família de Teori. Se os parentes de Teori liberassem, a Justiça não seria contra.

Os policiais queriam acesso às mensagens e aos telefonemas de Teori. Mas, para o juiz, isso invadiria a privacidade da vítima, já que, até agora, tudo leva a crer que foi mesmo um acidente.

Para um servidor público com acesso ao inquérito, o que a Polícia Federal quer, na verdade, ao acessar o celular de Teori, é obter mensagens e telefonemas que poderiam, de alguma forma, ser aproveitadas na Operação Lava Jato.

O juiz negou e o celular foi devolvido à família, mas talvez fosse interessante saber com quem Teori falou antes do acidente.

Teori Zavascki, ao aceitar a viagem com um réu na Justiça Federal por crime ambiental e que tinha ligações comerciais com um tubarão preso na Lava Jato, o banqueiro André Esteves, estava no lugar errado, com a pessoa errada e na hora errada.

E isso é um problema.

O inquérito sobre a morte de Teori deveria ser concluído em 30 dias depois do fato. Mas a polícia pediu prorrogação algumas vezes, e na Justiça Federal se acredita que esteja concluído nos próximos dias.