Amanhã é dia de torcer como um argentino

Atualizado em 7 de julho de 2014 às 13:15

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CAMPEÕES NA INTERNET

Jornalistas estrangeiros comentam em detalhes os altos e baixos da Copa do Mundo no Brasil. Confira no artigo “Cinco visões de fora: Futebol e brasileiros são os destaques da Copa”, de Julio Gomes, editor da BBC Brasil, em São Paulo. Uma rara abordagem livre dessa gangorra besta entre espíritos de porcos e polianas ufanistas que tem se dedicado a dividir a mesma cegueira.

A Copa tem sido um sucesso também na internet. Segundo matéria do The Next Web, Brazil vs Chile World Cup Game was the most tweeted event ever, ou “O jogo Brasil vs Chile, pela Copa do Mundo, foi o evento mais tuitado da história”: “Os 16,4 milhões de tuítes enviados durante a partida – na qual os anfitriões da Copa ganharam apertado, nos pênaltis – perfazem o jogo mais tuitados da Copa do Mundo até aqui. O Twitter diz que o momento em que o zagueiro chileno Gonzalo Jara perdeu o pênalti acarretou uma velocidade de publicação de 389 mil tuítes por minuto – o que bateu o Superbowl 48 (382 mil tuítes por minuto) como o evento esportivo mais tuitado da história”.

E o Buzzfeed deu uma ótima matéria sobre a cultura digital brasileira – e por que somos os reis da Social Media. Um pouco TLTR, talvez – Too Long to Read, no jargão dos geeks. Mas vale a pena pela imersão realizada. Diz a matéria Why Brazil is actually winning the internet, ou “Por que o Brasil está realmente ganhando a internet”: “Quando eu perguntei a (Ronaldo) Lemos o que fazia a cultura digital ser distintamente brasileira, ele mencionou um comentário de John Perry Barlow, feito em 2003, quando eles estavam trabalhando juntos para trazer o Creative Commons ao Brasil. ‘Ele disse que era muito interessante que os brasileiros gostassem tanto de internet, e que ele sabia por quê – é que ele nos via como um sociedade conectada muito antes da internet’, disse Lemos. E eu acredito que agora o Brasil virou um laboratório para experimentações com tecnologia e participação. O Marco Civil é um case fantástico disso. Ele mostra que tecnologia e democracia vão muito bem juntas, e que uma pode aprender com a outra.”

 ATRÁS DOS LOUROS, MUITOS PECADOS

Um olho, feliz, na Copa, no futebol e na festa. Torcendo muito a favor, sempre. Outro olho atento no que está por trás e no que nos trouxe até aqui. A ESPN internacional fez um ótimo especial sobre os gastos brasileiros com a Copa. O custo dos estádios aumentou 75% em relação ao previsto. O que fez com que 50% das obras prometidas não fossem realizadas. Não, esse não é um material da “imprensa golpista”. Trata-se de aritmética pura e simples. Segue também comparação em detalhes com os gastos de outros países com suas Copas, desde 1994.

Em artigos meus anteriores, aqui no Diário do Centro Mundo, alguns leitores me questionaram – alguns de modo muito atilado e respeitoso, outros nem tanto – sobre dados e fatos sobre o que eu chamava de inépcia, ineficiência, superfaturamento e outras balacobacos da nossa cultura de “parcerias público privadas”. Esse material da ESPN gringa nos empresta uma luz: “Claro que a um custo de 11,3 bilhões de dólares apenas em obras públicas, vai precisar mais do que apenas um evento realizado ao longo de quatro semanas sem grandes problemas para justificar o pesado investimento brasileiro para receber a Copa do Mundo. Em termos de potencial de desenvolvimento a longo prazo, uma das maiores preocupações dos economistas são os 3,6 bilhões de dólares gastos nos 12 novos e reformados estádios que estão usados para o evento. A conclusão acachapante de pesquisas acadêmicas tendo como tema estádios e arenas é que eles produzem de pouco a nenhum benefício econômico de longo prazo. É por essa razão que o Brasil originalmente enfatizou que a grande maioria dos gastos com infraestrutura para a Copa do Mundo viriam nas áreas de transporte, segurança e comunicações, com menos de 25% dos gastos totais indo para os estádios. Infelizmente, os custos dos estádios ficaram pelo menos 75% maiores do que aqueles apontados originalmente. E por conta desse aumento dos gastos e dos atrasos, o Brasil foi forçado a reduzir os seus investimentos nas demais obras de infraestrutura que poderiam ter gerado benefícios de longo prazo maiores.”

SOBRE FUTEBOL

Estamos, como você sabe, na semifinal contra a Alemanha e sem Neymar. Você acha que seria útil ter convocado:
1. Kaká
2. Ronaldinho Gaúcho
3. Lucas
4. Ganso
5. Nenhum. Felipão tem o grupo certo na mão.

E quem deve entrar no lugar de Neymar, considerando que Fernandinho e Luiz Gustavo serão os volantes titulares:
1. Bernard
2. Willian
3. Ramires
4. Hernanes
5. Paulinho
6. Outro

Boa ideia para torcer na terça: projeto Somos Todos Neymar, iniciativa de Nizan Guanaes. Ele promete imprimir 60 mil máscaras com o rosto do Neymar para distribuir no Mineirão. E convoca todo mundo Brasil afora a fazer o mesmo.

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Olha, podíamos usar as redes sociais também para combinar melhor um cântico oficial de torcida para ecoar no estádio. Com tanto samba bom, com tanto hino de rock, com tanto compositor popular no Brasil, que sabe escrever refrão para tocar no rádio e para grudar no ouvido, não é possível que “Sou brasileiro/Com muito orgulho/Com muito amor”, um anestésico musical, seja o melhor que possamos levar para as arquibancadas… A ideia de cantar o Hino Nacional aos 30 do segundo tempo é boa, é um começo…

O PESO DA TRADIÇÃO

Tradição e camisa contam muito no místico mundo da bola. Em 21 jogos contra a Alemanha – o menos místico dos times, infelizmente –, ganhamos 12, empatamos 5 e perdemos apenas 4. Marcamos 39 gols e sofremos 24.
Da mesma forma, o histórico e a tradição contam bastante a favor da Holanda contra a Argentina.

Pelo histórico, dá Brasil e Holanda na final. Pela lógica atual, dá Alemanha e Holanda. Mas, no fundo, esta Copa tem e teve um tema só: Brasil vs Argentina. Seria lindo. Épico. É por esse cenário que torço.

PREÇOS PADRÃO FIFA

Estive no Castelão, em Fortaleza, e fiquei embasbacado com a beleza do estádio. Mas gostaria de dizer que o Mané Garrincha, esse Estádio Nacional em Brasília que nos custou, até aqui, inacreditáveis 1,6 bilhão de reais, é o estádio mais inacreditável em que já coloquei meus pés. Um templo, um monumento a todos os demais coliseus e arenas do mundo, seus súditos. Nem o mais selvagem coloradismo me permitiria colocar o Beira Rio no rol desses outros dois estádios que conheci. E fora das 12 sedes há dezenas de estádios brasileiros que envelheceram 100 anos com essa Copa. Difícil ir ao Morumbi ou à Vila Belmiro depois de assistir a um jogo na Copa. Que dirá Brinco de Ouro da Princesa, Couto Pereira, Serra Dourada… Exceção feita a Grêmio e Palmeiras, que tem também estádios de padrão internacional. Enfim, mais uma cisão profunda e vertical no Brasil. A nossa boa e velha Belíndia, agora também no Brasileirão.

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Almoço padrão FIFA nos estádios da Copa: hambúrguer duplo, 13 reais. Cachorro quente duplo, 10 reais. Garrafa de Coca Zero, 8 reais. Garrafa de Brahma no copo que você lembrança da Copa, 10 reais. No fim, caro mesmo é o padrão São Paulo de preços para comer e beber: 93 reais um prato individual de bacalhau ao forno no Quattrino. Uma bruschetta custando mais de 20 paus no Pasta Gialla. Qualquer prato de macarrão custando 50 reais. Uma bola de sorvete artesanal – que agora é onda e você encontra em toda esquina – por 10 reais. Etc etc. Isso, sim, é de arrepiar.

P.S.

A crônica esportiva brasileira reúne alguns dos cabras mais feios do país. Assistir às mesas redondas é garantia de pesadelos à noite. Alguém arrisca uma tese? Seria um critério de contratação das emissoras?