Ao absolver Temer, TSE oficializa um ladrão na presidência da República. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 9 de junho de 2017 às 22:13

 

O Brasil já teve advogados, um marechal (não ditador), um sociólogo e um metalúrgico na Presidência da República.

Com a sentença de hoje, o TSE, a instituição do País responsável pela lisura das eleições, oficializou um ladrão como primeiro mandatário.

Michel Temer já foi procurador do Estado, advogado militante, fez carreira política, mas as gravações, as delações, suas atitudes e círculo próximo não deixam dúvida de como ele será visto pela história: ladrão.

Michel Temer pode (ou poderia) ser tão honesto quanto Ivo, o santo patrono dos advogados, mas os fatos e as circunstâncias tornados públicos mostram um perfil oposto.

Ladrão em plexo exercício da presidência, responsável por um orçamento de 3,7 trilhões de reais. Este é o retrato de Temer.

O perfil de Dilma Rousseff é oposto: uma mulher honesta.

Mas, se ela não tivesse sido alvo de um golpe parlamentar, a decisão do TSE teria sido outra.

De fato, nem Dilma nem Temer deveriam estar sendo julgados por questões eleitorais agora, depois de tanto tempo.

Mas por que o processo foi mantido durante quase três anos?

Foi uma estratégia para tirar Dilma e o PT do poder, caso falhasse o golpe desferido pelo Congresso Nacional.

Era o plano B dos golpistas.

As cortes de justiça superiores dão o exemplo de que, no Brasil, não se analisa os erros e os acertos das pessoas, mas as pessoas, e a elas, dependendo da circunstância, se atribuem crimes, com finalidades políticas.

Dois pesos e duas medidas, o oposto do ideal de justiça.

Temer tem pela frente uma denúncia criminal, provavelmente por corrupção passiva e formação de quadrilha.

Mas a chance dessa denúncia se tornar processo é pequena, já que caberá à Câmara dos Deputados decidir se autoriza ou não a ação no Supremo Tribunal Federal.

E esta Câmara dos Deputados está enterrada no lamaçal da suspeita e da corrupção.

No último balanço realizado pelo Congresso em Foco, com base nos registros do Supremo Tribunal Federal, havia 148 deputados federais suspeitos ou acusados formalmente de crimes.

Os delitos são variados: crimes de responsabilidade, contra a lei de licitações, corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e crimes eleitorais e ambientais, entre outros.

A lista deve ser mais extensa, segundo observou o Congresso em Foco, não apenas porque alguns ministros do Supremo mantêm a existência de alguns inquéritos em sigilo, mas porque, depois desse levantamento, foi divulgada a lista do ministro Édson Fachin com base na delação da Odebrecht.

Antes mesmo que o homem da mais estrita confiança de Temer fosse flagrado correndo com uma mala de dinheiro de propina por uma rua de São Paulo, a maioria da população já considerava o presidente da república desonesto: 58%, segundo pesquisa Datafolha de dezembro do ano passado.

De lá para cá, o número deve ter subido muito, porque basta conversar com qualquer pessoa, da esquerda à direita, para saber que ninguém discorda do conceito de que Temer é ladrão.

O Brasil já teve outros políticos com o mesmo epíteto – ladrão –, mas nenhum esteve no centro de um escândalo de corrupção com tantas evidências.

Nenhum presidente foi formalmente investigado por crime de corrupção com autorização de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

E o que fazem os ex-batedores de panela? Silenciam.

No fundo, é um silêncio cúmplice, como o do partido que tem a preferência desses brasileiros, o PSDB.

Para estes, bater panela foi a forma de expressar o ódio ao PT, manifestar seu inconformismo com a derrota eleitoral e voltar ao poder.

Esse sentimento, como se vê agora, é muito maior do que a vergonha de viver em um País dirigido por um ladrão, agora oficializado pelo TSE, num julgamento que foi presidido por quem se declara um antigo amigo e por dois ministros nomeados por ele.