As 7 melhores (e mais subversivas) séries da atualidade

Atualizado em 19 de março de 2015 às 17:46
MASTERS OF SEX (SEASON 2)
Bill e Virginia, de “Masters of Sex”

 

A televisão já foi um cemitério sombrio onde um sinal ocasional de vida surgia de entre as lápides. Era um purgatório para atores que não se deram tão bem no cinema, uma forma de punição por não ter a profundidade da tela grande.

Mas a explosão da internet e dos canais por streaming, como Netflix e Hulu, levou a uma revolução na programação da TV. Hoje, os melhores dramas não estão no cinema – um vasto deserto dominado por lixo de Hollywood.

A revolução foi liderada pela HBO e outras redes de cabo independentes, como AMC, Showtime e Sundance TV, que alteraram radicalmente a paisagem da programação de entretenimento.

Nos últimos seis ou sete anos, o público tem desfrutado de histórias emblemáticas como as de “Mad Men”, “Breaking Bad”, “Dexter”, “Homeland”, “Game of Thrones”, “House of Cards”, entre outras. Mais recentemente, o nível foi levantado mais ainda com o lançamento de “True Detective” e “The Honorable Woman”, seriados de oito capítulos melhores do que quase qualquer coisa que você viu recentemente.

Em Roma, no mês passado, em um festival dedicado às séries de televisão inovadoras, o lendário diretor de cinema Bernardo Bertolucci falou por 20 minutos sobre como “True Detective” foi a melhor obra dramática que ele apreciou “nos últimos 10 anos.”

Como observou Bertolucci, estamos testemunhando o fim da programação de consumo de massa e sendo levados a uma nova era em que a grande obra pode ser encontrada na tela de um computador, um iPad, bem como numa TV.

Aqui estão sete séries incríveis no ar atualmente. Se você quer saber por que “Homeland” não figura nesta lista, a série desandou na segunda temporada e a ausência do soldado Brody deixou a ultra-neurótica Carrie na miséria intelectual e o telespectador entediado.

 

1. True Detective

 

Os críticos cantaram louvores para esse “gótico caubói”. Matthew McConaughey é o detetive Rust Cohle, uma figura enigmática, sombria, guerreiro da estrada existencial. Ao longo de oito episódios, Cohle e seu ex-parceiro (Harrelson) foram reunidos quando um novo assassinato mostrava semelhanças perturbadoras com um caso do passado que era parte vudu, parte perversão sulista americana.

Foi tão bem sucedida que McConaughey está voltando para uma segunda temporada e será acompanhado por vários nomes de Hollywood, incluindo Colin Farrell e Jessica Chastain.

“Esta tem sido uma das experiências mais gratificantes de minha carreira”, me disse McConaughey. “Estamos vendo alguns dos melhores trabalhos sendo produzidos na TV hoje e cada vez mais atores e diretores que querem trabalhar nesses séries. Quando eu concordei em atuar, a única condição que impus era de que eu não iria fazer uma segunda ou terceira temporadas porque não queria assumir nenhum tipo de compromisso. Mas no final acabou por ser tão bom que eu não pude esperar para voltar ao personagem”.

2. The Honorable Woman

 

Outra série de TV de oito capítulos, centrada em torno de Nessa Stein, uma mulher que herdou o negócio de armas de comércio de sua família judaica e está usando sua riqueza para militar em favor de uma união entre Israel e Palestina.

Ela tem um plano de instalar um serviço de dados de alta velocidade entre Israel e Cisjordânia, que provoca a oposição de ambos os lados e leva a ataques terroristas.

Com o conflito no Oriente Médio como pano de fundo, Maggie Gyllenhaal faz um retrato glorioso e emocionante de uma mulher lutando para trazer um pouco de luz a um universo muito escuro. Brilhantemente fotografado e agraciado por um texto de primeira classe, recebeu um impulso da realidade pelos recentes acontecimentos em Gaza, mostrando como as grandes tensões permanecem e até onde Israel está pronto para esmagar os palestinos e o Hamas à menor provocação.

Diz Gyllenhall: “Estamos fazendo uma peça de ficção, mas às vezes eu olho para a situação e penso que acredito em uma reconciliação. É aí que a arte pode ser tão útil. Porque, basicamente, eu estava tentando criar um personagem que poderia falar com ambos os lados. Isso é uma fantasia. Mas eu acho que é uma fantasia que vale a pena alimentar”.

3. House of Cards

 

Amparado no poder de estrela de Spacey e nos roteiros tensos e emocionantes de David Fincher (diretor de “A Rede Social”, “A Garota Exemplar” e outros), “House of Cards” tornou-se uma sensação internacional. Robin Wright e Kate Mara co-estrelam a série que acabou virando símbolo da ascensão da Netflix e de uma revolução e reinvenção do entretenimento doméstico.

Spacey está diabolicamente fascinante como Francis “Frank” Underwood, o líder dos Democratas que comete atos indizíveis a fim de tornar-se presidente. A segunda temporada foi tão boa quanto a primeira, apesar da perda de um personagem importante em uma das reviravoltas mais surpreendentes que algumas séries já estiveram dispostas a assumir.

“É o início de uma nova era de ouro”, afirma Spacey. “Agora você pode contar com personagens complexos, que não são, talvez, o tipo que você costumava ver na TV porque durante muitos anos os executivos fizeram de tudo para atrapalhar. O público está esperando séries movidas por tipos fortes, com tons mais escuros, humor negro, com cara de anti-herói”.

“É maravilhoso que séries como Mad Men e Breaking Bad sejam uma vingança contra muitos desses filmes horríveis dos grandes estúdios, que custam centenas de milhões e sufocaram filmes inteligentes que costumavam custar 40 ou 50 milhões de dólares”.

4. Game of Thrones

 

Após ter completado a sua quarta e possivelmente mais ousada, se não perversa, temporada, o sucesso do seriado da HBO tem uma audiência média global de mais de 15 milhões  de pessoas graças à paisagem medieval pós-moderna e extraordinariamente violenta criada por George RR Martin. O elenco é encabeçado por Emilia Clarke como Daenerys Targaryen, uma deusa-mãe libertando cidades de escravos, tão inspirada quanto Peter Dinklage como Tyrion, o guerreiro maquiavélico de baixa estatura, mas indomável espírito.

Além de Clarke, Dinklage é de longe o ator mais popular da coisa. A série é audaciosa não apenas por seu enredo complexo, mas também pelo sexo desenfreado e a nudez que, mais uma vez, era privilégio do cinema.

Algumas feministas se queixaram de tendência em retratar as mulheres como objeto de dominação e abuso sexual. O dos best-sellers George RR Martin argumenta que retrata um mundo medieval brutal e cheio de relações não-consensuais. Os defensores de Game of Thrones observam ainda que uma das heroínas da atração é o personagem de Emilia Clarke, Daenerys.

“Game of Thrones” opera em uma escala épica e é a série mais cara já lançada na TV, com um orçamento médio de US $ 6 milhões por episódio. Mas o resultado é, entre outros, fazer com que “O Senhor dos Anéis” pareça um cruzamento de “Vila Sésamo” com “Robin Hood”.

5. Sons of Anarchy

 

Desde que “Sons of Anarchy” estreou em 2008, ela tem deslumbrado o público com sua descrição inquietante do mundo dos clubes de motociclistas.

O protagonista é Jax Teller (Charlie Hunnam), uma espécie de Hamlet de jaqueta de couro e Harley Davidson. Hunnam encontrou-se estranhamente atraída por Jax.

“Eu cresci com um monte de bandidos” disse Hunnam. “Meu pai e todos os seus amigos eram caras que operavam no outro lado da lei”.

O Netflix tem seis temporadas. Uma nova está sendo produzida. Povoada de gente que vive à margem da lei, “Sons of Anarchy” traz um retrato inquietante de uma parte da sociedade americana que é pouco vista na televisão ou no cinema. “A maioria das pessoas diria que os personagens são  bandidos. Mas é uma simplificação. A polícia é tão corrupta quanto eles. São homens e mulheres que aprendem a lidar com problemas com a lei sem acionar a lei”, continua Hunnam.

6. Sherlock

 

A série da BBC espectacularmente bem sucedida tem cativado o público, principalmente através do desempenho hipnotizante de Benedict Cumberbatch no papel-título. Sua interpretação do mítico detetive britânico nos tempos modernos é tão viciante como radicalmente subversiva.

O primeiro episódio da terceira temporada foi visto por um terço de todos os lares com televisão no Reino Unido.

Os espectadores estavam desesperados para saber como Holmes sobreviveu depois de aparentemente mergulhar para a morte do telhado do Hospital St. Bartholomew em Londres, enquanto Watson (Martin Freeman) assistia com horror.

Quando Holmes reaparece, é como uma homenagem ensandecida ao texto original de Conan Doyle. O desempenho de Cumberbatch como Sherlock Holmes virou fetiche no Reino Unido e no exterior, algo que ainda causa estranheza ao ator britânico.

“É surpreendente que as pessoas estejam tão obcecadas com um homem tão difícil. Só espero que as pessoas não me identifiquem demais com Sherlock Holmes porque eu não tenho muito em comum com ele”, ele me contou.

“Eu deveria lembrar as pessoas que Sherlock é um sujeito bastante perverso e que ele não iria se sentir muito grato com toda essa admiração. Não está na sua natureza. Na minha, talvez”.

7. Masters of Sex

 

“Masters of Sex” e “Mad Men” têm mais em comum do que apenas uma época.

Ambas são recheadas de cenas em que o subtexto é denso como melaço. “Masters of Sex”, produzido pela rede de cabo Showtime nos EUA e exibido no Brasil pela HBO, fala do mesmo momento sócio-político em que homens e mulheres se redescobriram nos anos 60.

Baseado em fatos reais, conta a história dos pesquisadores de sexo William Masters e Virginia Johnson, interpretados por Michael Sheen e Lizzy Caplan, respectivamente. Em parte devido à era retratada, em parte devido à destreza dos atores, em parte devido ao assunto, cada cena de “Masters of Sex” revela mais do que as aparências.

“Às vezes temos que ser dirigidos para usar subtexto porque estamos muito conscientes do que está acontecendo”, explica Sheen. “Precisamos ter cuidado para não abusarmos desse recurso”.

À primeira vista, Bill Masters é uma grande montanha de tensão reprimida. Ele é tão emocionalmente desligado de sua pobre esposa Libby (Caitlyn FitzGerald) que em qualquer outra época mais moderna ela o teria deixado.

Bill se entende com Virginia, com quem está tendo um caso, numa combinação de desejo e culpa, atração e condescendência. Ele é um dos personagens mais complexos da hoje.

“Uma das coisas que mais me interessam sobre esse personagem é o quão vulnerável ele é. As pessoas espinhosas e defensivas são as que, no seu conjunto, são as mais vulneráveis por ter sido feridas de alguma forma”, afirma Sheen. “A audiência já está mais sofisticada para aceitar mais do que o que é apresentado na superfície.”

Por um lado, Bill anseia por respeitabilidade e a admiração de seus pares. Mas também quer ser famoso.

Ele está obcecado com seu estudo controverso, principalmente porque sabe que o trabalho é inovador. Mas tem ciência dos tabus que enfrenta e do risco para sua carreira.

“Nós o ouvimos dizer várias vezes que queria ganhar um Prêmio Nobel. Esta é uma área de investigação que foi aberta por ele”, conta Sheen. “Ele quer ser um nome reconhecido, mas assumiu um risco.”

Se Bill Masters vai vencer? “Não há resposta fácil para essa pergunta. Vai levar seis, sete temporadas para respondê-la.”

Estamos prontos e esperando.