As lições das sabatinas de Bolsonaro e Ciro. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 23 de maio de 2018 às 22:07
Bolsonaro

Para isso servem as sabatinas: exporem os candidatos na sua forma original, sem os benefícios das propagandas gravadas ou os ideais meticulosamente estudados por seus marqueteiros.

Daí que a sabatina realizada hoje (22) pela Jovem Pan com Jair Bolsonaro e a realizada ontem (21) pelo portal UOL, SBT e Folha com Ciro Gomes, serviram razoavelmente aos seus propósitos.

Uma por vez.

Não que tenha sido qualquer mérito da direitista e partidária Jovem Pan, afinal, dissecar Jair Bolsonaro é como empurrar bêbado ladeira a baixo, um sopro e o infeliz faz todo o trabalho.

Numa surra escatológica, ficou latente o visceral despreparo do ex-capitão do exército. Completamente perdido, não foi capaz de fornecer um único dado coerente, uma mísera proposta decente para o país.

Ao titubear sobre os mais diferentes assuntos, o candidato do PSL (ganha um lança-chamas quem souber para que serve o PSL) mostrou que sua estratégia de fugir dos debates, como o diabo foge da cruz, está corretíssima.

Ninguém possui mais capacidade de desconstruir a candidatura do Bolso do que ele próprio. É um vexame monumental.

Está claro que Jair atingiu o seu teto, fora o seu público cativo formado por uma classe muita peculiar de “patriotas”, é difícil imaginar que alguém com um mínimo de decência moral venha a aderir à sua empreitada fascista. Ainda mais quando a campanha se acirrar e o rapaz tiver que enfrentar os demais candidatos cara a cara.

Para um sujeito que apanhou miseravelmente de um analfabeto político como Marco Antônio Villa, o prognóstico é desalentador.

Já Ciro Gomes se saiu muito bem frente aos seus entrevistadores.

Isso se você considerar que uma profusão de bravatas, pronunciadas com segurança e desenvoltura, sirva de alguma coisa prática à luz dos fatos.

Ciro Gomes, obviamente, não é um Jair Bolsonaro. Muito longe disso. Ao contrário do que ele mesmo considera o seu adversário ideal num potencial segundo turno, Ciro utiliza o seu autoritarismo com método.

Da forma como fala, com ar professoral a encarar os seus interlocutores como seres inferiores, o ex-governador do Ceará vende-se como o único desse país a portar as soluções jamais pensadas para o Brasil.

Dado a sua mania de grandeza, Ciro Gomes talvez não perceba, mas o que fala com tanta convicção não encontra amparo na realidade. Principalmente quando puxa para si uma responsabilidade que ele mesmo sabe não poder arcar.

Não me esqueço, ainda no processo de impeachment sem crime de responsabilidade da presidenta Dilma, quando o autoproclamado herói cearense afirmou que o então vice-presidente Michel Temer não assumiria a presidência.

Explicou ele, no mais tradicional estilo de coronel, o motivo que impediria Temer de dar o seu golpe:

“ Não vai porque EU não vou deixar”.

Destemido o rapaz. Pena que a realidade se mostrou outra.

Quando já da ameaça do ex-presidente Lula ser preso, eis que novamente surge o justiceiro Ciro.

Ainda que na sua avaliação Lula não seria preso, caso essa possibilidade se mostrasse real, Ciro estaria disposto a sequestrar o ex-presidente e entregá-lo em alguma embaixada.

No dia de sua prisão, porém, sequer apareceu lá para prestar solidariedade.

São traços de um político caricatural que o acompanharam na sua sabatina.

A expressão de assombro e incredulidade dos entrevistadores quando Ciro Gomes garantiu aprovar suas maiores reformas já nos primeiros seis meses de mandato, deu o ar cômico da entrevista.

Quem acredita nisso, realmente deve estar disposto a votar em Ciro.

Na sua solução “inovadora” para os juros de fato estratosféricos do sistema financeiro, o ilustre entrevistado sacou da manga uma ideia original: utilizar os bancos públicos para provocar uma concorrência no mercado.

Ao ser lembrado que Dilma Rousseff já havia tentado essa mesmíssima coisa, Ciro disse que ela tinha feito tudo errado. Qual seria a forma correta, ficamos todos órfãos dessa informação.

Eu participei pessoalmente do projeto que reduziu os juros nos bancos públicos. Naquela época, baixar as taxas de juros bancários era uma obsessão de Dilma. A ordem desceu direto do Palácio do Planalto como sendo de prioridade zero, extremo sigilo e conclusão em tempo recorde.

Surtiu efeito nos primeiros meses. Mas foi exatamente aí que a presidenta Dilma perdia o seu mandato. No Brasil, ninguém mexe com o lucro dos banqueiros e sai ileso para contar a história.

Pois não é que menos de 24 horas depois de Ciro Gomes dar essa declaração, os representantes do grande capital financeiro, entre eles a própria Folha de S. Paulo, reagiram à proposta.

É muito provável que Ciro não fale mais desse assunto com tanta ênfase e coragem. Ele sabe, porque burro não é, que se insistir nessa tese as suas chances de chegar ao segundo turno, que diga-se de passagem já não são tão grandes assim, serão reduzidas drasticamente.

Daí o que fica mesmo dessas duas sabatinas é a comprovação de tudo que já sabíamos anteriormente: Bolsonaro é um completo incompetente para o cargo (qualquer cargo) e Ciro Gomes não passa de um bravateiro.

Por assim dizer, ambos provaram ser o que de fato são.