Ativismo de sofá o *&^§: o sucesso no Brasil da maior plataforma de abaixo-assinados do mundo

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 14:28

change.org

O ativismo de sofá pode, na verdade, tratar-se de uma lenda. Com a classificação pejorativa que sempre teve, de passividade, nunca existiu de fato. Um “ativismo” não pode ser passivo, e o oxímoro caiu do sofá. Foi a predisposição do “ativista de sofá” que levou multidões às ruas em junho e que tem gerado força para as reincidências.

Mais: para perpetuar o ciclo, as manifestações de rua também encorpam o ativismo cibernético, apoiando causas em que a presença física é impossível (em outros estados ou mesmo países, por exemplo).

É nesse cenário que a Change.org, uma plataforma de abaixo-assinados, vê sua adesão deslanchar no Brasil.

Autointitulado “o Youtube das campanhas online”, o Change.org completa um ano no país com 1,4 milhão de usuários que assinaram os 60 abaixo-assinados que surgem semanalmente no site (no mundo, são 500 por dia).

Nascida em 2007 nos EUA, a plataforma já contabiliza 45 milhões de usuários mundo afora (em cerca de 200 países) e algumas conquistas importantes.

O abaixo-assinado contra a PEC37 obteve 461.019 assinaturas. Com sua votação ocorrida durante o calor de junho, pode-se dizer que a proposta de emenda não passaria, independentemente do abaixo-assinado, mas não se pode desconsiderar sua parcela de ajuda. E casos mais recentes dão provas do quanto o ativismo da rede pode ter ganhado força em razão das recentes manifestações “ao vivo”. Algumas causas inseridas na plataforma exerceram seu papel de pressão e conseguiram a vitória em cerca de dois meses.

Foi assim com a conservação de 27 árvores que seriam derrubadas no entorno do novo estádio do Palmeiras (as tipuanas seriam arrancadas da avenida Francisco Matarazzo para dar lugar a carros) ou na desistência da prefeitura de Ilhabela de urbanizar duas praias que se encontram em reserva natural (o total de assinaturas exigindo o cancelamento do projeto superou o número total da população da cidade). Desde a abertura da campanha até o arrego do poder público não se passaram 60 dias. Um relâmpago em termos de mobilização social.

Nem sempre a grandeza do número de assinaturas é fator primordial. “É importante salientar que às vezes um abaixo-assinado com 2 mil, 3 mil assinaturas obtêm vitória, enquanto um com 500 mil não alcança. Em causas pequenas o efeito pode ser maior e mais rápido”, diz Graziela Tanaka, diretora de campanhas da Change.

Com o poder da internet em propagar e mobilizar rapidamente milhares de pessoas, em boa parte das vezes a eficiente pressão de um abaixo-assinado é o suficiente para que empresas atendam a vontade popular antes mesmo que seja preciso levar o assunto à esfera judicial. Após tomar conhecimento da existência de mais de 6,3 mil assinaturas, o site Buscapé rapidamente retirou as 200 lojas não recomendadas pelo Procon da sua lista de resultados de busca e inseriu-as na sua própria lista negra. Foi assim também que com apenas 14 mil assinaturas (um montante não muito expressivo no meio industrial) que a Darling respondeu positivamente à demanda de criação de sutiãs especiais para mulheres mastectomizadas. Diante da abertura da fabricante, outras marcas seguirão a tendência.

Nem todas as empresas, no entanto, se sensibilizam facilmente. A Coca-Cola está na berlinda com o caso do consumidor que alega intoxicação após ingerir o refrigerante contaminado por um rato. Ele briga na justiça contra a empresa há 13 anos. Mas só agora, com as 62 460 assinaturas coletadas na plataforma (até o momento) o caso ganhou repercussão na mídia. A Coca permanece na defesa, tratando o caso juridicamente enquanto seu logotipo sofre intervenções artísticas várias nas redes sociais. A pressão aumentou.

Não há restrição nem filtro de relevância das causas. Uma simples pauta de condomínio pode ser lançada ali. Obviamente que uma questão que abrange um maior número de pessoas receberá atenção maior da Change, que faz a ponte com o tomador de decisão, contata a imprensa, atualiza permanentemente os apoiadores, enfim, faz o “barulho” necessário.

Manifestar-se, mesmo que desde o sofá, indica a vocação ativista, amplia o debate, fortalece as causas. Obter sucesso na empreitada obedece a variantes que vão do engajamento à adesão de movimentos socias, do interesse à importância do tema. Mas tudo isso hoje pode ser feito de sua casa, graças à internet.