Ato falho: o surto de Moreira em entrevista depois de uma pergunta sobre Lula. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de fevereiro de 2017 às 12:59
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Surtados

 

A reação de Moreira Franco a perguntas de Raymundo Costa e Daniel Rittner no Valor é o que os freudianos de boteco chamariam de ato falho.

Moreira, o Angorá segundo a definição de Brizola (por pular de colo em colo politicamente, além de uma óbvia conotação sexual), está num estado atribulado de nervos.

Não só ele.

Ainda que Alexandre de Moraes tenha emplacado no STF e o Congresso esteja comprado, a montanha de escândalos que virá, por exemplo, nas próximas delações não permitirá que a escumalha que tomou o poder durma sossegada.

Nenhuma questão foi desrespeitosa ou particularmente espinhosa. Apenas duras. Moreira perdeu a cabeça por motivos outros.

Um deles é Lula. Sobre o desempenho de Lula nas pesquisas, o melhor que ele teve a dizer foi: “Olha aqui, rapaz, você é muito novo, olhe aqui…”

Reproduzo alguns trechos Divirta-se:

Valor: O senhor virou ministro para ter foro privilegiado?

Wellington Moreira Franco: Claro que não. Essa é uma acusação totalmente fora de propósito, uma politização radicalizada. A nomeação é fruto de um processo que ocorreu com imensa naturalidade. Não é nenhuma manifestação de vaidade ou de soberba da minha parte. Todos sabem a minha ligação antiga com o presidente Michel Temer. Se fosse intenção minha ser ministro para buscar foro, eu teria sido desde o começo.

Valor: E por que não foi, então?

Moreira: Eu não quis ser. Na época, me foi oferecido. Estávamos o presidente Temer, o Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo], o [Eliseu] Padilha [ministro da Casa Civil] e o Jucá [senador Romero Jucá, líder do governo no Congresso e ex-ministro do Planejamento] em uma reunião em São Paulo.

(…)

Valor: O senhor entende a oposição como algo mais além do PT?

Moreira: Sim, claro.

Valor: O que é esse algo mais?

Moreira: São todos aqueles que se revoltam contra a possibilidade de o governo resolver a maior crise econômica da nossa história, que ficam indignados com isso. Não querem aceitar isso. Não dão o valor necessário para que você retome um padrão de confiança na economia…

Valor: Desculpe, ministro, o senhor não está dizendo que em nome do combate à crise se deve amenizar em relação às investigações…

Moreira: Você me respeita [exaltado e de dedo em riste], essa pergunta é desrespeitosa.

Valor: Não, é apenas um pedido de esclarecimento a um raciocínio.

Moreira: É uma pergunta desrespeitosa. Não dá nenhum esclarecimento. É uma suposição.

Valor: Está bem, ministro, fica o registro: o senhor acha que é um desrespeito e uma suposição. Pronto.

Moreira: Pronto.

Valor: Qual sua leitura do processo eleitoral? É impressionante como quase 40% dos eleitores ainda querem votar no Lula.

Moreira: Olha aqui, rapaz, você é muito novo, olhe aqui…

Valor:Em outros termos, se Lula está na frente, é porque o governo não está convencendo, as pessoas querem voltar ao status quo anterior. O que explica isso? Saudade do período de bonança ou o problema da comunicação?

Moreira: Eu convivi com dirigentes de grande experiência política e não existe problema de comunicação, existe problema político. Quando você tem a política correta, você tem uma boa comunicação.

(…)