Autocrata reativo: Doria não admite, mas seu estilo “bateu, levou” é imitação barata de Trump. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 4 de abril de 2017 às 16:15

 

João Doria nunca admitiu o parentesco, mas sua estratégia reativa, de responder a tudo e a todos de maneira agressiva e estapafúrdia, é uma imitação do seu tio da América, Donald Trump.

Doria quis sair na mão com um folião no Carnaval, fez um vídeo com um mimimi para cima da Amazon e a chamou de oportunista por causa do comercial do Kindle, xingou um rapaz num evento de entrega de casas financiadas por um programa do governo federal.

Há dias, ironizou André Singer por causa de um artigo na Folha.

Singer classificou sua candidatura a presidente de “aventura desesperada”. Doeu e o prefeito de São Paulo mandou uma cartinha para o jornal, publicada na seção dos leitores.

“Vá passear em Curitiba, Singer”, escreveu JD, lembrando da atuação do novo inimigo de infância como porta voz de Lula e “petista”.

Mais infantiloide, impossível. Ao acusar o golpe desse jeito, João Trabalhador está admitindo que Singer acertou na mosca. Esse pendor para bater boca em público tem em Trump, também empresário e ex-apresentador de TV, um mestre.

Desde que foi eleito, Donald já bateu boca, principalmente pelo Twitter, com o que chama de “manifestantes profissionais”, o New York Times, o elenco da peça Hamilton, os comediantes de Saturday Night Live, a CNN, um repórter da CNN, a China, o diretor da CIA, a Boing, Bill Clinton, o editor da revista Vanity Fair, as Nações Unidas, Obama, a General Motors, a Toyota e Arnold Schwarzenegger.

Trump, como seu pupilo, não deixa passar nada, e responde invariavelmente um tom acima.

John Robb, escritor americano e analista militar, fez uma análise desse estilo. Define Trump como “autocrata reativo”. Essa forma de governança, diz Robb, opera de maneira diferente da que foi legada pela burocracia da Guerra Fria. A preferência é por um contato direto com o eleitorado.

Atacando constantemente seus adversários, Trump e Doria estão dando um recado de que não viraram políticos comuns — me engana que eu gosto — e que, portanto, seus seguidores podem confiar neles.

Doria, até agora, entregou som, fúria, espuma, chilique, marketing e botox. Ao contrário de Trump, ele tem a mídia toda a seu favor.

Vai demorar um pouco mais que o americano por causa da blindagem, mas vai cansar. Existe um limite universal para moleques mimados que ficam berrando e arrumando encrencas sem parar.