Banco Mundial expõe os vilões da máquina pública: os golpistas do Legislativo e do Judiciário. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 6 de dezembro de 2017 às 7:59
Meirelles
Paz e amor

Reza o ditado que contra fatos e dados não há argumentos.

A pedido do próprio governo federal brasileiro, o Banco Mundial elaborou um relatório que, na concepção da atual malta palaciana, ajudaria a corroborar com a farsa propagada do inchaço da máquina pública, com a sanha entreguista do patrimônio nacional e com o sucateamento do serviço estatal em benefício de empresas privadas que, não por acaso, financiam o mais desonesto Congresso Nacional já visto na história republicana deste país.

Postos os números à mesa, o resultado foi uma verdadeira desmoralização a um discurso que vem sendo defendido anos a fio por corruptos, vendilhões, privatistas, ignorantes e desinformados em geral.

Esmiuçada as conclusões do estudo macroeconômico nacional, o que ficou claro é que à luz da comparação com os países-membros da OCDE, o Brasil ocupa um lugar confortável, em geral na média, em setores historicamente atacados pela direita brasileira e, paradoxalmente, percentuais obscenos em quesitos cujo moralismo tupiniquim jamais ousou criticar.

Vamos a eles.

Denunciado por 10 em cada 10 irresponsáveis que atualmente determinam o futuro da nação, o número de funcionários públicos do Estado – entenda-se governo federal, estadual e municipal – ocupam atualmente um percentual inferior a 6% da população.

Comparando-se com a média da OCDE, de quase 10%, podemos afirmar que não somos exatamente um país com uma crise crônica de funcionalismo público.

Ainda assim, e isso não é segredo para ninguém, gastamos muito mal. Muito e mal.

Aqui é onde são desnudados os verdadeiros vilões da nossa folha de pagamento e um dos importantes patrocinadores da desigualdade social no Brasil.

Apesar, como já demonstrado pelo relatório do próprio Banco Mundial, de não termos um problema de inchaço da máquina pública, de forma geral, a média dos salários pagos ao funcionalismo público brasileiro é bastante superior à média dos demais países.

Estratificada a massa salarial paga por setores, nítida como a água fica exposta a casta realmente privilegiada deste país em matéria de salários públicos.

Apesar de possuírem taxas ínfimas em número de funcionários se comparado ao todo, o Ministério Público da União, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário amealham para si, salários individuais que ultrapassam a casa dos R$ 200 mil anuais, o que representa, no conjunto, uma generosa e desproporcional fatia do bolo. Isso em valores de 2016.

A média dos demais trabalhadores civis do Executivo, por exemplo, é praticamente a metade desse valor. Se considerarmos apenas a grande base da pirâmide, é um descalabro.

Promotores e juízes que, muito bem pagos para defender a lei e a constituição, exercem hoje tão somente o papel de “salvadores da pátria”, aliam-se a deputados e senadores no grupo de iluminados responsáveis por fazer do funcionário público comum, o culpado por um problema estrutural brasileiro do qual eles próprios (funcionários públicos comuns) são vítimas.

Na contramão de toda essa falácia neoliberal, o relatório mostra ainda, e principalmente, o verdadeiro e escabroso ralo do orçamento público nacional: os juros da dívida.

Absolutamente intocado pelos ditos intelectuais da direita, o Brasil é disparado o país que mais gasta com despesas de juros de dívidas.

Não importa se comparado com os considerados pares estruturais como África do Sul e Turquia, pares regionais como Colômbia e Chile, OCDE ou BRICS, o Brasil é campeão nato ao nadar nesse poço sem fundo.

Caso curioso que não pode ser passado despercebido, é que não pagamos mais dividendos porque pegamos mais dinheiro emprestado. Pagamos mais dividendos porque pagamos mais juros.

Estados Unidos, a meca do capitalismo mundial, possui uma dívida bruta maior do que o Brasil, no entanto, paga menos da metade em juros se comparado conosco.

Como se vê, o Brasil não só gasta muito e mal, insiste, imbecilmente, em querer resolver o problema atacando justamente quem já sofre pela degradante disparidade socioeconômica.

O relatório do Banco Mundial é extenso, exatos 156 páginas, e mostra que o caso brasileiro é complexo. Reformas infinitamente mais importantes não só para o ajuste das contas públicas, mas sobretudo para a diminuição da desigualdade social, como a tributária ou mesmo uma auditoria da dívida pública, são mais prementes do que a atual reforma previdenciária que pune amargamente, nas formas como está sendo posta, a grande massa populacional, ao contrário do que o governo quer levar a crer.

De tudo que está exposto no relatório do Banco Mundial, o que realmente pode-se afirmar é que Temer, a exemplo de FHC, está conduzindo o país para o aprofundamento de uma grave crise política, econômica, social e humanitária.

Não deixa de ser emblemático que num relatório de um banco que não faz outra coisa a não ser cobrar sacrifícios de países periféricos, elaborado a pedido e para um governo incompetente e ilegítimo, é obrigado a iniciar o resultado de seu estudo, ainda no prefácio, com a seguinte frase:

Após um período de estabilidade econômica, altas taxas de crescimento e redução substancial da pobreza, o Brasil enfrenta hoje grandes desafios para lidar com seus gastos públicos.

Sabemos todos a qual período o tal relatório refere-se. Como já dito no início, contra fatos e dados não há argumentos. Cabe agora decidirmos qual caminho realmente queremos trilhar.

Em 2018 o povo brasileiro terá a oportunidade de recolocar na presidência da República, via eleições diretas, legais e democráticas, o responsável pelo período de maior crescimento econômico e de combate à fome e à desigualdade social já visto na história deste país.

Isso, claro, se os nababos do Ministério Público Federal e da Justiça Federal não se utilizarem de suas funções públicas para darem mais um golpe judicial no Brasil.