Pela terceira noite seguida manifestantes reuniram-se na Paulista em protesto contra o golpe parlamentar. E na noite de ontem, os ânimos estavam ainda mais exaltados após a votação que decretou o impedimento definitivo de Dilma Rousseff. Uma goleada de 61 a 20.
Mais uma vez o roteiro foi o mesmo das noites anteriores. Saindo do MASP não se pode ir na direção da FIESP.
Os golpistas continuam ali, são donos do pedaço e intocáveis. Um claro sinal de provocação. Então logo um maciço cordão policial se forma na avenida e dali ninguém passa. Se quiser andar, a manifestação precisa ir sempre no sentido oposto.
Eram milhares de pessoas que uniram duas concetrações marcadas com poucos metros de distância entre elas. Uma no MASP e outra na Praça do Ciclista.
Guilherme Boulos estava presente e falou ao DCM:
DCM – Como viu o resultado de hoje?
Boulos – O que não podemos dizer é que o resultado não era previsível. A farsa estava montada, ali nenhum argumento funcionaria. A decisão do Senado e do Congresso já estava tomada.
Como será de agora em diante?
O Senado não tem legitimidade para definir o destino do povo brasileiro. Ainda mais um Senado corroído pela corrupção, cheio de canalhas que fizeram uma eleição indireta. Por isso a resistência vai se intensificar nas ruas.
Temer se sustentará?
Ele tem uma blindagem fortíssima, é preciso reconhecer. Tem blindagem midiática, tem apoio no Congresso, tem um bloco do empresariado sustentando o governo dele. É forte, mas não tem legitimidade social. Então abriu-se um período de instabilidade e conflito social no país.
Também repetitiva foi a atuação da polícia que, a certa altura, decide terminar com a manifestação. Resolve que deve atacar e pronto. Foi o que novamente ocorreu na rua da Consolação. Então recebemos aquela chuva de meteoros bélicos. Seis, oito, dez bombas simultaneamente vindas do céu sobre a aglomeração de pessoas desarmadas e indefesas.
Daí os olhos queimam, a garganta fecha, o oxigênio acaba. A ação violenta e repressora provoca a reação dos mais novos e mais exaltados. Agências bancárias tornam-se alvo preferido. O centro da cidade virou praça de guerra. Uma quebra na ordem, mas estamos vivenciando um golpe, qual é a ordem estabelecida num país que retira um presidente na mão grande?
Protestos ocorreram em diversas cidades ontem. Mas protestar contra o atual governo é colocar em risco sua integridade física. Se os protestos irão se intensificar como previu Guilherme Boulos é algo a conferir pois a repressão policial muitas vezes funciona. Quem tem olho tem medo de bala de borracha.
Coragem, entretanto, parece não faltar, por enquanto. E objetividade nos recados também. “Temer, seu otário. O seu governo continua temporário”, cantavam os manifestantes.