Bresser: “A PEC 241 é feita para a classe rica que patrocinou o golpe e essa onda de ódio”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 21 de outubro de 2016 às 15:06
Bresser
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Luiz Carlos Bresser Pereira foi entrevistado no programa do DCM na TVT desta semana.

Bresser nos recebeu em sua casa no Morumbi na tarde em que Cunha foi preso, um dia depois do artigo de Lula na Folha, intitulado “Por que querem me condenar”.

Ex-ministro da Fazenda no governo Sarney e ministro da Reforma do Estado e, depois, da Ciência e Tecnologia de FHC, Bresser tomou o caminho oposto ao dos ex-colegas.

Enquanto eles foram para a direita, Bresser tornou-se um crítico contumaz do que chama de desmonte do estado social brasileiro. Fundador do PSDB em 1988, saiu em 2011. Posicionou-se firmemente contra o golpe e esteve presente a diversos atos pela democracia — mantendo suas discordâncias relativas ao rumo da economia sob Dilma.

“Cunha tinha que ser preso, já era esperado com a ficha corrida que ele tem”, diz ele.

“Isso pode servir para alegar imparcialidade na hora de pegar Lula. O objetivo da Lava Jato é atacar o PT e Lula. O PT eles já pegaram. Do Lula, não encontraram nada. Insistem em dizer que ele é chefe de uma ‘organização criminosa’. Gastaram milhões e encontraram o sítio que ele usou emprestado e o apartamento no Guarujá. O artigo dele à Folha é coisa de estadista”.

Bresser acredita que há uma caça às bruxas contra a política. “Um país que tem a classe política desmoralizada pela direita e pela esquerda é um país sem rumo”, afirma.

A PEC 241 serve, em sua opinião, para atender “a classe rica dominante que patrocinou o golpe e essa onda de ódio”.

“Eles dizem que temos uma crise fiscal. Temos, na verdade, uma dívida fiscal causada por uma imensa recessão. As causas foram a queda do preço das commodities no segundo semestre de 2014”.

“A PEC não vai ter nenhum efeito agora. O objetivo é desmantelar o estado do bem estar social e destruir o SUS e a educação fundamental.”

A alternativa, segundo ele: “Imediatamente baixar a taxa de juros e abrir linha especial de crédito para salvar as empresas, para elas saírem do buraco”.

“Isso tudo é a aplicação da cartilha neoliberal. O neoliberalismo só é eficiente quando há perda de controle das finanças públicas, o que não é o nosso caso. A crise financeira agora é das empresas, e não do estado. A política liberal nunca promoveu desenvolvimento econômico no mundo. Sempre fracassou, mas é uma religião para o setor financeiro, para rentistas e para os economistas orgânicos desse capital rentista”, enumera.

Em sua opinião, o artífice da PEC não é o governo Temer. Há uma espécie de prestação de contas.

“O PMDB não tem ideologia. Quando o PSDB perdeu as eleições e Aécio pediu o impeachment, o Moreira Franco falou: ‘Essa é a nossa chance. Vamos fazer uma profissão de fé neoliberal e ganhar a confiança dos rentistas. Aí fizeram aquele documento ‘Ponte Para o Futuro’”, diz.

O grande estelionato eleitoral está sendo cometido por Michel Temer, considera o professor. “Se ele foi eleito como vice de Dilma, como pode estar fazendo agora exatamente o contrário do que vinha sendo feito?”

Ele guarda amizade por Fernando Henrique Cardoso (não lhe pergunte sobre Serra), que não encontra há tempos. Mas de sua antiga agremiação partidária quer distância.

“O PSDB é a UDN atual. É um tipo de partido que, para o Brasil, é um desastre. Eles não têm nenhuma ideia de nação, não têm nenhuma ideia do que seja a defesa dos trabalhadores e dos pobres. É um partido elitista, dependente e colonialista”.

Eis os destaques do programa: