Cafu marcou o gol mais bonito de sua carreira ao deixar o futebol de lado na TV. Por Sacramento

Atualizado em 27 de junho de 2016 às 17:44

No jargão do futebol, “elemento surpresa” é aquele defensor que de uma hora para outra sobe ao ataque e confunde a defesa adversária. Veloz e ágil nos tempos em que jogava na lateral direita, o ex-jogador Cafu reviveu essa função ao abordar um assunto raramente discutido nas mesas redondas de futebol.

A jogada do capitão da seleção brasileira pentacampeã mundial aconteceu durante o programa Boa Noite Fox da última segunda-feira (20/06). Depois de falar da nova geração de laterais direitos, da seleção brasileira e de especular sobre o futuro do time sob comando do técnico Tite, Cafu encerrou sua participação com uma surpreendente defesa dos estudantes grevistas que ocupam a USP.

“A minha despedida vai ser fazer uma consideração em relação à educação, que eu combato bastante na nossa fundação, que é o direito de igualdade dentro da sociedade. E nós estamos vendo o que está acontecendo na USP ultimamente, que é uma coisa vergonhosa pro ensino brasileiro, estão dizendo que os alunos são vândalos, baderneiros, pelo contrário, os alunos da USP estão lutando pelo direito de igualdade, pelo direito de cota racial, pelo direito de cota social, lutando pelo direito de igualdade de grandes funcionários, de professores gabaritados que estão sendo mandados embora e não estão colocando professores à altura para que nosso ensino possa ser melhor. Acabaram com a cota da USP, estão eliminando os dormitórios para os alunos que vêm de fora.”

“(…) Eu acho que tem que levar em consideração o que esses meninos estão reivindicando, os meninos não são baderneiros, não são bagunceiros, eles estão reivindicando aquilo que é deles, a USP é do povo, e o povo merece ter um ensino adequado e a USP era uma das nossas maiores referências e tem que continuar sendo uma referência no ensino brasileiro, então vocês que têm o poder, deem uma olhada melhor no que está acontecendo lá na USP”, concluiu o jogador.

Cafu, em uma só tacada, falou de desigualdade social, racismo e a luta pela educação gratuita, assuntos que a maioria dos seus colegas de profissão evita sem nenhuma ponta de remorso.

O recado final, que ele manda aos que “têm o poder”, serve tanto para políticos e burocratas quanto para as estrelas da bola, mais interessadas em assinar contratos vultosos que em usar o prestígio para ajudar a diminuir mazelas sociais.

É de conhecimento público o engajamento social do ex-jogador, que minutos antes de erguer a taça na Copa do Mundo de 2002 rabiscou na camisa a frase “100% Jardim Irene”, bairro pobre de São Paulo onde cresceu e deu os primeiros chutes na bola.

Um anos antes ele havia criado a Fundação Cafu, para levar atividades de inclusão social a moradores da comunidade. Atualmente, mais de 1.000 crianças, adolescentes, jovens e adultos participam das oficinas culturais, esportivas e dos cursos profissionalizantes oferecidos pela fundação.

Ainda assim, o discurso na emissora conhecida por seu viés conservador foi uma agradável e ousada surpresa. Aposentado dos campos, Cafu mostra que sabe fazer bonito fora das quatro linhas e no Boa Noite Fox marcou um gol de placa aos 45 minutos do segundo tempo.