Cármen Lúcia, Thompson Flores & cia: os juízes estão preocupados com o clima de insegurança que eles mesmos causaram. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de janeiro de 2018 às 8:30
Cármen Lúcia e Thompson Flores

A presidente do STF, Cármen Lúcia, se reuniu na manhã de segunda-feira, dia 15, com o presidente do Tribinal Regional da 4ª Região, Carlos Eduardo Thompson Flores.

Thompson foi a Brasília discutir a segurança em torno do julgamento de Lula, marcado para o dia 24 em Porto Alegre.

Na saída, ele se recusou a falar à imprensa. Qualquer informação deveria ser divulgada por Cármen. Thompson ainda tinha uma reunião com a PGR Raquel Dodge.

O tribunal de Thomson Flores afirmou no sábado, um dia após um café com deputados petistas, que os juízes vêm recebendo ameaças pela internet, por telefone e por cartas.

Elas seriam direcionadas a João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus, o trio que julgará o recurso do caso do triplex.

O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Roberto Veloso, também engrossou o coro: há convocação “da população para haver uma pressão e até se chegar às vias de fato. Isso é o que não podemos conceber”.

“Se o Brasil é uma democracia e existe um devido processo legal, que é o devido processo penal com a possibilidade de recursos, por que se vai então partir para a violência?”

Onde estão os autores dessas intimidações? Nomes, conteúdo delas — cadê?

É curioso que as excelências estejam agora preocupadas com um clima que elas mesmos criaram ao longo dos últimos meses (não vou entrar no mérito do papel da turma desde o impeachment).

Os brasileiros podem se reunir, garante a Constituição. Os eleitores de Lula devem encarar como cordeiros tudo que está acontecendo?

Em agosto passado, Thompson Flores falou ao Estadão sobre a condenação de Lula a 9 anos e meio de prisão. “O juiz Moro fez exame minucioso e irretocável da prova dos autos”, cravou.

“É uma sentença que vai entrar para a história do Brasil. E não quero fazer nenhuma conotação de apologia. Estou fazendo um exame objetivo. Eu digo: em tese, se eu fosse integrante da Oitava Turma, e se estivesse, depois do exame dos autos, convencido de que a sentença foi justa, teria muita tranquilidade em confirmar.”

Sua chefe de gabinete é uma revoltada online que compartilha posts antiLula, um deles de um abaixo assinado pedindo a prisão do ex-presidente, chamado de “o maior criminoso da história da humanidade”.

Quando Daniela Tagliari Kreling Lau foi flagrada, Thomspon Flores passou-lhe a mão na cabeça. Em nota, afirmou que a servidora exerceu um direito de “cidadã e em caráter particular”.

Se fosse um protesto pró Moro estariam todos tranquilos? Ou haveria essa histeria?

A pressão poderia ter sido evitada se ao menos o decoro houvesse sido respeitado. Se os juízes tivessem falado nos autos. Se as cartas não estivessem vergonhosamente marcadas.

A instabilidade jurídica e a insegurança não são culpa de quem está de passagem marcada para o Rio Grande do Sul, mas daqueles que agora querem proteger as ruínas do estado de direito em nome de si mesmos.