“Chef”, o pequeno grande filme em cartaz no cinema e no Popcorn Time

Atualizado em 14 de setembro de 2014 às 10:47

 

John Favreau é responsável pelo estouro da série “Homem de Ferro”. Os três filmes da franquia são, essencialmente, um passatempo besta em que ele, Favreau, executou as ordens dos mandachuvas do estúdio.

Foi também produtor executivo de outro blockbuster que flopou — “Cowboys & Aliens”,  que conseguiu desagradar milhões de pré-adolescentes de todas as idades.

Há muito de autobiográfico no ótimo “Chef” — escrito, dirigido e produzido por ele, que faz, inclusive, o papel principal, o do cozinheiro Carl Casper.

Casper é um chef promissor e inventivo que vai trabalhar numa casa chique fazendo um menu protocolar, cumpridor de tabela. Um dia recebe a visita de um crítico influente de um blog e toma uma cacetada — exatamente por causa do cardápio covarde.

Ele quer ser criativo, mas o dono, Riva (Dustin Hoffman), não permite. Os dois têm uma briga: “Se você quer ser um artista, seja em suas horas de folga”, diz Riva. Demitido, ele é encorajado pela ex-mulher (Sofia Vergara) a tentar a sorte com um food truck.

Em Miami, reforma um furgão caindo aos pedaços e, com a ajuda do filho pequeno superconectado (Emjay Anthony), do melhor amigo (John Leguizamo) e do Twitter monta o restaurante itinerante El Jefe, de cozinha com acento cubano. No meio do caminho, tenta acertar os ponteiros com o filho, que negligenciou a vida inteira, e lidar com a crise da meia idade.

Favreau, como Casper, “se vendeu” no começo da carreira. O primeiro filme decente que escreveu foi a comédia dramática “Swingers”, de 1996, sobre um grupo de amigos atores procurando um lugar ao sol em Hollywood.

Daí em diante, entrou no grande esquema das coisas e diluiu sua personalidade. Apanhou bastante da crítica, o que explica sua diatribe quando Casper encontra o blogueiro que o desancou: “Você não produz nada. Você apenas fala merda da minha merda!”

É cinema para quem gosta de gastronomia, mas, graças a Deus, não exagera na dose, não trata cozinheiros como filósofos ou astros de rock e não tem nenhum enoidiota falando em safras de vinho (a não ser o patrão bocó de Casper). O caminhão passa por lugares nos EUA conhecidos por causa da culinária, como o Café du Monde em Nova Orleans, que serve famosas “beignets”, massa frita coberta de açúcar de confeiteiro.

Favreau, não à toa, é gordo. “Chef” é sobre uma de suas paixões — comer. A outra é o cinema. Há uma ou outra bobagem. É difícil saber o que Scarlett Johansson está fazendo na tela além de enfeitá-la. Mas, ei, é Scarlett Johansson. E pode haver um certo exagero na quantidade de closes de pães de forma em chapas quentes. Mas nada disso prejudica “Chef”.

Uma pesquisa recente da Universidade de Maryland comprovou, cientificamente, que aquele clichê que sua avó repetia é verdade: comida feita com amor é mais gostosa. Vale para o “Chef” de John Favreau. Vale para você. Depois de mais dez anos servindo fast food sem alma para as pessoas, ele acertou a mão fazendo algo que realmente ama.