Com direito a beijo na mão de Aécio, Chico Alencar foi a cereja do bolo na suruba da festa de Noblat. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de março de 2017 às 16:09
Temer e Noblat na festa de aniversário do blogueiro da Globo
Temer e Noblat na festa de aniversário do blogueiro da Globo

 

A pergunta que não quer calar é: o que Chico Alencar estava fazendo naquela suruba?

Foi um sucesso a festa de 50 anos de carreira de Ricardo Noblat, blogueiro do Globo responsável por dar como “furo” o boato de WhatsApp da camareira que apanhou de Dilma e pela pergunta no Roda Viva com Temer: “Como você conheceu Marcela?”

Noblat ofereceu um jantar no famoso Piantella, em Brasília, provavelmente na faixa porque jabá só é jabá quando é para os outros. Uma versão de banho tomado para a suruba do Jucá, na verdade mais obscena porque disfarçada.

Michel Temer apareceu e encantou os presentes com seu carisma, sua beleza e sua espontaneidade. Contou que Padilha “está em convalescença, mas em uma ou duas semanas, estará de volta”.

Não está nem aí para a “lista de Janot”, que pedirá a abertura de inquérito de seus ministros. “Se eu for me preocupar com isso, não faço mais nada. Não estou preocupado”, afirmou, exalando auto confiança.

“Meu objetivo é levantar o país. A economia está indo numa onda excepcional, crescendo substancialmente. Meu único objetivo é colocar o país nos trilhos”.

Numa rodinha, avistou Alencar. Chico era a cereja do bolo. Como dizia um antigo editor meu, o colírio do rapapé. Ali estava a cobiçada virgem na orgia. A pureza do Psol dando sopa no valhacouto.

Segundo a Folha, um político vaticinou que Temer ficaria quarenta anos no poder. “Se for com o aplauso do Chico, tudo bem”, devolveu Michel. O deputado do PSOL respondeu de bate pronto, para alegria dos circunstantes: “A esquerda gosta de um certo continuísmo”.

Estavam lá Moreira Franco, Mendonça Filho, Raul Jungmann, Roberto Freire, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso, José Serra — este último, milagrosamente curado da apocalíptica dor nas costas que o fez pedir o chapéu no Itamaraty.

Passada a meia-noite, Aécio Neves engatou um solilóquio externando sua preocupação com os rumos da nação e as consequências da Lava Jato.

“Todo mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política”, cravou.

O megadelatado líder defendeu o caixa 2: “Um cara que ganhou dinheiro na Petrobras não pode ser considerado a mesma coisa que aquele que ganhou cem pratas para se eleger”.

Chico se derramava. “Não dá para ter essa conversa franca com Sarney e Renan”, disse ao tucano, que não deixou por menos e fez-lhe um convite: “Vamos fazer um partido, eu e você? O partido do bem”.

Não ficou nisso.

A alturas tantas, Chico Alencar beijou a mão do senador mineiro, enquanto demarcava a diferença fundamental entre o dono daquele membro e os peemedebistas.

“Você tudo bem, mas Renan e Jucá, não”, comparou. Questionado pela repórter da Folha a respeito de seu ato, explicou que é “um cara derramado, como ele, aliás. Não é sinal de submissão”.

Não. É pior que isso. É abjeto. Chico prestou um enorme serviço ao cinismo. Paradoxalmente, mostrou que vivemos um teatro desprezível.

Só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências, escreveu Oscar Wilde, que não foi citado por nenhum dos comensais. Ao longe, Romero Jucá observava os virtuosos surubeiros e dava risada.