Como o PSDB foi se tornando irrelevante

Atualizado em 20 de março de 2013 às 8:44

Os tucanos não captaram o espírito do tempo. Por isso caíram no desprezo dos eleitores.

Carismático
Carismático

Alguma surpresa com o esfacelamento do prestígio do PSDB dramaticamente exposto numa pesquisa do Ibope?

No sudeste do Brasil, sua maior base, o número de pessoas que disseram votar no PSDB caiu pela metade entre 1995 e 2012. Situa-se hoje na esquálida faixa de 7%. É uma marcha rumo à insignificância.

Basta o PSDB olhar para o espelho para identificar a culpa da derrocada: ele próprio. A inércia de FHC pós-presidência permitiu que Serra tomasse o comando tucano e conduzisse o partido para uma direita predatória que vai completamente contra o zeitgeist — o espírito do tempo.

O PSDB, transformado numa mistura de UDN e Arena, ganhou um estrepitoso apoio da mídia, mas perdeu votos, influência e sentido. Hoje, o PSDB é basicamente apenas contra Lula e o PT. Foi patético, na última campanha municipal em São Paulo, ver Serra tentar atacar Haddad ao vinculá-lo a Dirceu como se este fosse satã. Ele repetiu Mônica Serra quando disse a eleitores pobres, sem saber que um repórter a ouvia, que Dilma era a favor da morte de criancinhas por sua posição diante do aborto.

O espírito do tempo é a luta contra a iniquidade social que varreu o mundo nos últimos anos.

Acaba de ser divulgado um relatório da Oxfam, uma prestigiosa organização filantrópica baseda na Inglaterra e presente em dezenas de países. O estudo foi destaque em toda parte. Seu título é autoexplicativo: “O Custo da Desigualdade: Como a Riqueza e a Renda Extremas Fazem Mal a Todos”.

Segundo a Oxfam, o patrimônio somado das 100 pessoas mais ricas do mundo — 240 bilhões de dólares — seria capaz de acabar quatro vezes com a pobreza global.

“Não podemos mais fingir que a criação da riqueza para poucos beneficiará inevitavelmente a todos”, diz Jeremy Hobbs, diretor executivo da Oxfam. “Frequentemente o contrário acontece. A concentração dos recursos nas mãos de uma minoria deprecia a atividade econômica e dificulta a vida de todo o resto, particularmente dos que estão na parte de baixo da pirâmide social. Em um mundo em que até mesmo os recursos básicos como terra e água estão se tornando escassos, não podemos permitir que a riqueza se concentre nas mãos de poucos, enquanto muitos lutam pelas sobras.”

Continuemos com Hobbs.

“Dos paraísos fiscais às leis frágeis trabalhistas, os ricos se beneficiam de um sistema econômico global que é regido em seu favor. É hora de os líderes políticos reformarem este sistema e fazerem com que ele trabalhe para os interesses de toda a humanidade, e não apenas da elite global.”

(Atenção: a menção às “leis frágeis trabalhistas” se aplica exemplarmente ao caso Dornelles x Globo, relatado por este Diário.)

Apenas para registro, a Oxfam citou o Brasil como um exemplo de país que conseguiu conciliar crescimento e combate à pobreza. Não sei se o estudo será divulgado no Brasil, mas é quase certo que, caso algum jornal o divulgue, o elogio ao país seja simplesmente obliterado.

O PSDB, nos últimos anos, falou em justiça social? Propôs alguma coisa relevante? Alguém do partido parece incomodado com os extremos de riqueza e pobreza nacionais?

Não, não, sempre não.

Sendo assim, como imaginar que a pesquisa do Ibope pudesse ter resultado diferente?

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