Cristovam Buarque, o estranho. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 13 de maio de 2016 às 18:31
Mestre na arte da hipocrisia
Mestre na arte da hipocrisia

O senador Cristovam Buarque parece estar se aperfeiçoando na terrível arte da hipocrisia. Além de cobrar dos outros aquilo que ele mesmo não faz, agora se diz surpreso com o resultado desastroso que sua lógica enevoada ajudou a construir.

Não é tarefa fácil determinar em que ponto do caminho Cristovam se perdeu de sua história, mas sabemos com clareza o político em que se transformou quando critica a corrupção de seus adversários ao mesmo tempo que aceita caixa 2 oferecido por gente do PSDB para pagar as suas despesas de campanha.

Como se não bastasse toda a sua contradição histórica ao se contrapor aos movimentos sociais durante a cruzada insana pelo golpe, tenta agora, com a desfaçatez de quem não assume os seus atos, descolar a sua imagem do terror que será inevitavelmente o governo Temer.

Após divulgado o ministério de “notáveis” formado a toque de caixa pelo traidor da pátria, Cristovam não demorou para expressar em sua conta no Twitter a sua “estranheza” ao modelo de gestão adotado por um governo ilegítimo.

Disse ele: “Ficou estranho um ministério sem mulheres, sem representantes de minorias e dos movimentos sociais”.

Seria cômico se não fosse trágico. Em questão de horas a tão prometida “renovação” da política brasileira se desfez em cínicas demonstrações de decepção e “estranheza”.

Não há absolutamente nada de estranho na equipe ministerial que irá servir aos desejos da plutocracia. Cada um deles está ali por um motivo bastante claro e definido: retomar a agenda entreguista, opressora e neoliberal que marcou toda a era FHC.

Não é por acaso que ministérios como o da Cultura foram sumariamente banidos da vida política nacional. Cultura, obviamente, não faz parte dessa velha agenda que Temer faz querer crer ser a “ponte para o futuro”.

Por tudo isso, alguém sequer cogitar que um governo que se originou do preconceito, do machismo, da intolerância, da ilegalidade e da divisão de classes seria minimamente destinado às mulheres, às minorias e aos movimentos sociais é de uma inocência desconcertante.

Se esse alguém é um político de longa data como Cristovam Buarque, só podemos concluir que tudo não passa da mais escancarada má-fé. Nem o seu orgulho ferido seria suficientemente grande para mascarar uma realidade tão evidente.

O que nos leva a algo ainda pior. Cristovam, movido pelos sentimentos mais mesquinhos, ao invés de defender ideais humanitários, preferiu entregar o seu povo e o seu país nas mãos de carrascos.

Isso sim é realmente muito estranho.