Cristovam pediu a Dilma para tirar a palavra “golpe” de carta antes de votar pelo golpe. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de agosto de 2016 às 22:33

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Se Eduardo Cunha simboliza a bandidagem profissional do impeachment, Cristovam Buarque representa sua flacidez moral e seu jaez cínico.

O senador do PPS esteve quatro vezes no Palácio da Alvorada com Dilma, negociando trechos da carta que ela vai divulgar em defesa do plebiscito por novas eleições.

Cristovam pediu mudanças acerca de temas econômicos, mas sua maior insistência foi com relação à palavra “golpe”.

Pediu que ela fosse retirada.

A mensagem de Dilma foi escrita durante dez dias. Lula contribuiu. Outros senadores foram “consultados”. De acordo com uma fonte do DCM, Cristovam era sempre “o cara mais difícil”.

A missiva teve várias versões. Deve ser anunciada nesta quarta, dia 10. Desnecessário lembrar que é tarde demais. Demorou. O jogo está perdido.

Em seu discurso no planário do Senado, quando o relatório de Anastasia obteve 59 votos a favor e 21 contra, Cristovam declarou que “há meses o Brasil está divido nas ruas e dentro do Senado entre os que desejam interromper o mandato da presidente a qualquer custo e os que desejam mantê-lo a qualquer custo”.

Ele votaria “no melhor para o Brasil e não na alternativa mais simpática, mesmo que isso significasse suicídio político e sentimental”. Por fim: “Voto pela aprovação do parecer da comissão. A volta do governo Dilma significaria a volta do mesmo modelo”.

Cristovam foi tido, ao longo dos últimos meses, como um dos indecisos, como Romário. Na prática, como Romário, o que ele estava fazendo era valorizar seu passe. Como quem tem a caneta é Temer, fechou com ele.

O blablabla sobre novas eleições era do gênero “se colar, colou”. Muita saliva e muita tinta foram gastas no sentido de apelar para sua consciência, seu passado ou algo que o valha.

A última dessas tentativas foi uma carta aberta de ex-colegas UnB (Woody Allen foi definitivo sobre cartas abertas: “por que a pessoa simplesmente não telefona?”). Eles avisaram que Cristovam “trilhará o caminho da cinza, da abjeção e, por fim, do esquecimento”.

“Os signatários militaram ao seu lado travando batalhas em torno de bandeiras democráticas – os Programas ‘Bolsa Escola’, ‘Saúde em Casa’, ‘Paz no Trânsito’, ‘Temporadas Populares’ e outros – e seguem acreditando naquele sonho humano que justifica vidas: não há invenção mais imperfeita nem mais generosa, como forma de governo, do que a Democracia.”

Esse tipo de argumento — totalmente legítimo, aliás –, jamais vai comover um cínico dessa estatura. A moeda de CB é outra e Michel Temer sabe como é que tipos como eles devem ser tratados.

Quando se trata de gente como Cristovam, Temer não escreve cartinha. Michel repete Stalin: “Quando ouço falar em impeachment, saco logo meu talão de cheque”.