“Cunha continua sendo o articulador de Temer”, diz ao DCM o deputado Glauber Braga, do PSOL

Atualizado em 6 de agosto de 2017 às 13:37
Glauber Braga

POR RIBAMAR MONTEIRO, de Brasília.

O deputado Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, ficou famoso depois de uma enquadrada no colega Jair Bolsonaro no plenário 3 da Câmara.

JB deu um piti quando Braga acusou-o de fazer campanha com cota parlamentar.

Em sua visão, os partidos de esquerda devem se unir na resistência contra a agenda imposta pelo governo Temer e em favor das diretas já, mas quando o assunto é eleições ele afirma que o PSOL não apoiará , pelo menos no primeiro turno, e lançará candidato próprio.

Ele falou ao DCM:

Há a possibilidade de uma união dos partidos de esquerda neste momento?

O que nos unifica neste momento é a amplitude para resistir aos ataques que estão sendo feitos. O governo já anunciou que vai trabalhar agora para tentar aprovar o desmonte da Previdência Pública. A gente tem que expandir para resistir a essa agenda.

Se discutirmos as eleições e os projetos para 2018 agora e não fizermos uma avaliação madura, ao meu ver, de que temos de ter amplitude para resistir aos ataques que estão sendo feitos, acho que é ruim para a luta da esquerda. Então, acho que o centro da nossa atenção é estabelecer uma unidade na resistência à agenda que está sendo implementada pelo governo, e o próximo round é a reforma da Previdência.

Acredita ainda em diretas para 2017?

Eu acho que essas lutas têm que caminhar em conjunto. A luta tem que ser pela saída de Temer e, além disso, diante de novas denúncias contra ele, que virão, pela interrupção do golpe. A interrupção do golpe só vem com a interrupção do projeto que está sendo implementado, que é um programa de desmonte do estado e dos direitos sociais.

Para uma interrupção do desmonte é preciso, necessariamente, ter alternativas a isso. Do ponto de vista tático, alternativa a isso é a realização de novas eleições, que é o que a maioria do povo pede. E a luta tem que caminhar também contra a reforma. Então, são três lutas que têm que andar juntas: fora Temer; não às reformas e eleições diretas.

Como lutar, ao mesmo tempo, por diretas e contra as reformas do governo Temer?

Não é fácil, mas é necessário, até para que possamos ter respostas para dialogar, em conjunto, com a população. Porque as pessoas podem questionar: ah, bacana, vocês querem “fora, Temer”, mas querem que entre quem? Aí, a gente tem que ter uma resposta a isso, que é: o povo é que deve ter o direito de escolher quem o representa na formatação de um programa político e administrativo, por meio de novas eleições.

Mas isso em 2017?

Sim, acho que temos que continuar. Não podemos abandonar a bandeira das eleições diretas. Substituir Temer não é suficiente. Fundamental é barrar o golpe, e a forma de fazer isso é interrompendo essas reformas.

O processo eleitoral é uma possibilidade, inclusive, de você constranger, explicitar, aqueles candidatos que se apresentam como se não fossem políticos. Um Doria da vida, por exemplo, que se apresenta como não político, como gestor, mas faz a defesa do mesmo programa que está sendo colocado em prática pelo Temer.

Bolsonaro também. Se apresenta como um não político, apesar de todo o reacionarismo que representa, mas do ponto de vista econômico representa essa mesma agenda do Temer. Votou a favor da reforma trabalhista, se absteve no projeto sobre terceirização e o filho dele (deputado federal Eduardo Bolsonaro – PSC de São Paulo) votou a favor. Também votaram pelo congelamento dos investimentos em saúde e educação por vinte anos.

Então, explicitar isso publicamente é fundamental e a eleição é uma oportunidade. Não é fácil aprovar uma emenda para a realização de novas eleições, mas nada do que vamos enfrentar é fácil e não se resolve, somente, no campo institucional. Tem que ter também a força popular, numa pressão de fora para dentro sobre o parlamento.

Falando em Bolsonaro, qual a sua opinião sobre ele?

Eu acho que temos de trazer o Bolsonaro para jogar no campo que ele não quer. Ele quer jogar em um campo que fala para um público que é o reacionário dos costumes.

Não estou dizendo que o enfrentamento não tem que ser feito, mas acho que temos que puxá-lo para a arena econômica, na retirada dos direitos sociais. Ele votou a favor de uma reforma que retira direitos trabalhistas da maioria dos brasileiros, que a desaprovam.

O Bolsonaro não está representando aquela direita reacionária e, ao mesmo tempo, estatizante. Ele fez um caminho diferente nessa história. Defende um programa reacionário nos costumes, mas liberal do ponto de vista econômico, ou seja, diminuição do tamanho do estado exatamente na retirada de direitos sociais. Ele não defende um estado garantidor de direitos ou um estado, pelo menos, um pouco maior. Não. Está defendendo um estado punitivo maior, mas com a diminuição dos direitos sociais.

Quando se traz o Bolsonaro para o campo que vai discutir reforma trabalhista, terceirização total e irrestrita, ele não quer. Foge. Porque ele está votando contra a maioria do povo. Então, temos que mostrar tudo isso que está acontecendo.

Ele não resiste a um debate qualificado e amplamente divulgado quando tiver que falar sobre reforma trabalhista, terceirização, PEC do teto de gastos e a sua visão econômica, que é de retirada de direitos das pessoas. Bolsonaro vai ter que se posicionar, em algum momento, porque faz o jogo de uma parcela do eleitorado dele, de maior poder aquisitivo, que está no topo da pirâmide econômica, que é a favor da retirada de direitos do povo.

O PSOL apoia o Lula em 2018?

Não. O PSOL tem candidato. Vai construir um projeto para uma candidatura própria.

Chico Alencar?

Chico é um dos nomes apresentados, mas essa definição vai se dar um pouco mais à frente. O Chico é um desses nomes que eu não tenho dúvidas: unifica o partido e ao mesmo tempo tem condições de articular a apresentação de um programa.

Não seria o momento de uma união da esquerda em torno de um único nome?

Considero que temos que ter unidade para resistir aos ataques que estão sendo feitos às reformas, independentemente de termos projetos eleitorais diferentes que possam ser avaliados pela sociedade. Ou seja, você reafirma os seus projetos em um primeiro turno e as pessoas vão fazer a avaliação desses projetos.

Agora, onde eu acho que tem que ter a unidade de resistência é nos ataques que estão sendo sofridos, mas a existência de candidatura própria do PSOL é fundamental, inclusive, na afirmação daquilo que é o seu programa e na afirmação do que a gente considera como alternativa para o futuro.

E a pauta da resistência, sendo bastante objetivo, não tem sido somente com o PT. O PDT, por exemplo, tem candidatura própria, que já está colocada, e ao mesmo tempo tem participado da resistência. Uma parcela dos parlamentares da Rede Sustentabilidade, mesmo com todas as contradições do partido, tem participado da luta contra essas reformas que estão sendo implantadas.

O que eu quero dizer é: o projeto eleitoral da Rede, com uma possível candidatura da Marina, é um retrocesso. Ainda assim, se for para resistir aos ataques que estão  sendo feitos agora, temos que ter amplitude, unidade.

Acredita que o PT quer o “fora, Temer” ou concorda com a opinião de alguns deputados que dizem que para o partido é vantajoso, eleitoralmente, Temer continuar, impopular, até o fim do mandato?

Tenho que te falar a partir do que eu vi essa semana, que foi uma oposição trabalhando, articuladamente, pela saída de Temer. Então, pelos elementos que eu tenho dá para dizer que houve, sim, uma oposição trabalhando para que o Temer não fosse blindado na votação, trabalhando pela saída dele.

Mas na sua opinião é interessante para o PT que Temer continue “sangrando” no poder?

Eu acho que é interessante para todo o Brasil a saída de Temer, junto com a agenda de interromper as reformas e de realização de novas eleições. E a minha tarefa, nesse momento, é contribuir com a articulação dessa posição entre os partidos de oposição. E eu senti nessa semana que o clima foi esse.

Em relação ao Maduro e à constituinte na Venezuela, você tem alguma opinião?

Primeiro, eu acho que não se pode avaliar a situação venezuelana sem partir do pressuposto de que eles têm a maior reserva de petróleo do mundo. O Brasil é a 15ª reserva do mundo e sofreu espionagem dos americanos, que fez, na época, com que Dilma deixasse de viajar aos Estados Unidos quando foi explicitada a espionagem. Imagine o processo de pressão que sofre um país que tem a primeira reserva de petróleo.

Enquanto isso, o governo Temer já anunciou exercícios militares dos Estados Unidos na Amazônia, no “cangote” da Venezuela, para novembro, com a presença de observadores americanos. Isso, na geopolítica, não pode deixar de ser analisado.

Segundo, todo país tem que olhar para a Venezuela entender que é um país soberano e, assim sendo, eles têm o poder de escolher qual caminho trilhar. E além de ter o poder de escolher o seu caminho, esperamos que o povo venezuelano encontre a paz. Se a vontade soberana foi o voto na Constituinte, temos que apoiar a vontade soberana do povo. A minha avaliação, como representante de um país vizinho, é que a Venezuela encontre um caminho de paz e que respeitem a soberania venezuelana, em um mundo onde, necessariamente, forças internacionais estão tentando mexer nessa geopolítica e tem o interesse, claro, que é o petróleo.

Isso não quer dizer um aval irrestrito a todo e qualquer tipo de ação. Não é isso que estou falando. Estou falando que são princípios fundamentais da relação entre os povos o respeito à soberania , além de um facilitador para que a Venezuela encontre o caminho da paz, diferentemente do que fez o PSDB, que foi para a Venezuela articular ações que pudessem intensificar o conflito, que queriam acirrar. A gente considera que tem que se encontrar o caminho da paz para o povo Venezuelano.

O posicionamento do deputado Jean Wyllys, declaradamente contrário a Maduro, representa a opinião do PSOL?

O PSOL do Rio de Janeiro tem uma posição mais crítica do que o nacional. São duas posições. O meu papel é respeitar essa diversidade de opiniões dentro do partido, mas dizer qual é a minha, que já explicitei, de respeito à soberania e à decisão do povo, esperando que encontrem o caminho da paz. E se o povo venezuelano, majoritariamente, fez a defesa de um voto pela Constituinte, o meu papel e a minha defesa é de respeito a essa opinião.

Como avalia a atuação do deputado Carlos Marun, que antes era o defensor do Cunha e agora defende o governo Temer com unhas e dentes?

O Carlos Marun é aquele que é escolhido para as piores missões no governo Temer. É escolhido para a missão de salvar o Cunha, para a missão de salvar o Temer, depois para a missão de tocar as reformas que retiram direitos do povo. Ele é escolhido para as missões que os outros que compõem a base do Temer têm medo, por conta da repercussão pública negativa daquilo que vai ser feito. Ele fica até o final nessas missões. É da tropa de choque do mesmo campo político de Temer, Cunha e companhia.

Cunha ainda é Temer?

Não tenho dúvidas disso. Vou te contar uma história de quando eu cheguei à Câmara, em 2009, como suplente. O candidato à Presidência que a gente apoiava era o Aldo Rebelo, do PC do B, contra Michel Temer. Logo quando eu dei minha primeira entrevista me perguntaram em quem eu votaria e eu disse que seria no Rebelo, junto com a orientação do meu partido à época (PSB). O Cunha ficou sabendo disso e numa ligação telefônica, no primeiro contato que eu tive  com ele, me disse: o nosso candidato é Michel e nós vamos trabalhar para retirar você do plenário no dia da votação. E foi assim, no dia da eleição, fizeram o titular do mandato voltar para que eu não pudesse votar contra o Temer.

Ele sempre foi um articulador das ações da cúpula do PMDB, que é um mesmo grupo: Temer, Henrique Alves, Cunha, Padilha etc, cada um com a sua tarefa, mas representando um mesmo campo.

E qual seria a tarefa atual do Cunha?

O Cunha é o articulador intelectual de ações, continua sendo. Claro que ele está preocupado com o exercício da sua defesa, mas não tenho dúvidas de que ele ainda continua articulando o que tem sido feito aqui fora.

Kim Kataguiri e o MBL estiveram com ele…

Kataguiri é um boçal que representa não um pensamento que seja de uma direita liberal clássica, mas uma alguém que utiliza instrumentos de ódio permanente para tentar fazer com que os seus adversários fiquem com medo dele e do grupo que o cerca. Mas na minha opinião são incompetentes, inclusive, no exercício dessa tarefa e função, além de estarem claramente vendidos a quem os patrocina do ponto de vista político de quem patrocina.

Quem?

Está claro, por exemplo, nas nomeações que o governo federal e na relação deles com o governo Doria, em São Paulo. E o MBL não é um movimento que não discute ideias. Se fosse um movimento liberal, que atuasse assim, tudo bem, eles colocariam suas ideias nós debateríamos. Mas não, nas ações deles há uma tentativa contínua de desmoralização do oponente, exatamente para que não seja feita uma análise reflexiva sobre os pontos daquilo que eles dizem.