Cunha operou os grandes negócios de Temer no governo e por isso o pavor da delação. Por KiKo Nogueira

Atualizado em 15 de junho de 2016 às 12:35
Ilustração de Nadia Khuzina publicada na Piauí
Ilustração de Nadia Khuzina publicada na Piauí

 

De homem insubstituível para tocar o impeachment, o Pelé míope do golpe, Eduardo Cunha virou uma dor de cabeça para o interino por causa do que sabe de todo o mundo, especialmente do ex-sócio Michel Temer.

E se ele resolve entregar? E se, no desespero de ver a mulher à beira do cadafalso, topa uma delação premiada? De acordo com o repórter Daniel Carvalho, do Estadão, essa possibilidade vai se tornando cada vez menos remota.

Segundo Carvalho, “a medida foi defendida por parte do núcleo jurídico que atende Cunha em reunião na residência oficial da Câmara que se estendeu até as 3h desta quarta-feira, 15.”

Ele “não descarta nenhuma hipótese”. Cunha “está mais incomodado com a situação da Cláudia”, afirma um “assessor” (de imprensa?).

Eduardo Cunha está, mais uma vez, lançando mão de sua arma predileta: a chantagem. Para tanto, usa a imprensa  amiga (“jornais e revistas simpatizantes”, na imortal definição de Sergio Moro em sua tese sobre a Mani Pulite).

Temer, um covarde sem comando, incapaz sequer dos tais “acordos de bastidores” pelos quais era supostamente famoso, não conseguiu salvar Cunha no Conselho de Ética.

O ex-presidente da Câmara opera desde tempos imemoriais para todo o partido. Seu dedo está nos negócios de Temer, no mau sentido.

E se ele abrir o bico sobre o Porto de Santos e o Aeroporto de Guarulhos?

Em janeiro, veio à tona a denúncia de que as campanhas de dois deputados federais do PMDB, Hermes Parcianello e João Arruda, receberam dinheiro do Grupo Libra através de transferências da conta de campanha de Michel Temer em 2014.

O Libra obteve uma vantagem inédita para administrar o Porto de Santos depois de uma emenda parlamentar incluída por Cunha na nova Lei de Portos. Foi o único beneficiário de uma brecha na nova legislação, que permitiu a empresas em dívida com a União renovarem contratos de concessão de terminais portuários.

Os dois trabalharam juntos, igualmnte, numa outra história. Segundo parecer de Rodrigo Janot, enviado ao STF, o interino recebeu uma doação de 5 milhões de reais da OAS, propina que teria facilitado a obtenção da concessão do Aeroporto de Guarulhos.

O nome de Temer aparece em mensagens encontradas no celular do ex-executivo da empreiteira: “Léo Pinheiro afirmou que explicaria, pessoalmente, para Eduardo Cunha [sobre a doação], mas que o pagamento dos R$ 5 milhões para Michel Temer estava ligado a Guarulhos”, escreveu Janot.

“Michel é Cunha”, disse Romero Jucá numa frase mais atual do que nunca.