Cunha vai perdoar a traição de seus antigos paus mandados? Por Sacramento

Atualizado em 14 de setembro de 2016 às 8:57
Eles
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Agora que Eduardo Cunha foi defenestrado da Câmara dos Deputados, fica a esperança de que ele se vingue de antigos aliados e os arraste com ele para a lata de lixo da História.

Motivos para isso ele tem. O ex-presidente da Câmara foi nocauteado e pisoteado por 450 votos pela cassação e míseros 10 a seu favor. Suas últimas horas como parlamentar foram marcadas pela solidão e pelo isolamento, como lembrou Sílvio Costa ao discursar na tribuna.

O deputado do PT do B de Pernambuco observou que apenas cinco dos deputados presentes na sessão tiveram coragem de apertar as mãos de EC. “O primeiro a te abandonar, Eduardo Cunha, foi o Michel Temer”, cravou Sílvio Costa, como um toureiro espetar o touro antes do golpe final.

Foi um final humilhante para quem há poucos meses era visto como todo poderoso. Tinha a própria bancada, deputados nas mãos, nos bolsos e na mala. Influência que lhe rendeu fama de gângster, ou, nas palavras da deputada Clarissa Garotinho, de um “mafioso da pior espécie”.

Caso EC seja mesmo isso que pintam, pode-se esperar uma represália das grandes. Por enquanto ele só anunciou um livro com os bastidores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, do qual foi um dos arquitetos.

Mas vingança mesmo seria a divulgação de um dossiê com provas robustas de esquemas ilícitos ou um acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, capazes de causar estragos e derrubar outros canalhas da mesma estirpe do Cunha.

É assim que as coisas funcionam no mundo do crime. Na maioria das vezes não são os mocinhos que derrubam os vilões e sim os antigos comparsas, com quem os gângsteres dividiam drinks, acepipes e maracutaias.

Foi assim na ficção de “O Poderoso Chefão”, onde foram tiros de outros mafiosos e não da polícia que quase destruíram Don Corleone. No mundo real, Pablo Escobar poderia estar vivo se não tivesse o Cartel de Cali e o grupo Los Pepes a morder seus calcanhares.

A regra vale também para o baixo clero da criminalidade, com policiais recorrendo a informações de traficantes para prender integrantes de gangues rivais e traficantes acionando as autoridades para denunciar policiais corruptos.

EC conhece muito bem esse jogo autofágico de bandidos devorando bandidos. Resta esperar para ver se ele terá coragem ou interesse em promover uma merecida e bombástica vendeta para derrubar seus antigos capangas.