É preciso que falem mais isso: grande coisa ser gay.
Daniela Mercury postou no Instagram fotos com a esposa, a jornalista Malu Verçosa. Poderia dizer que ela se assumiu, mas para se assumir tenho a impressão de que ela precisaria ter dado uma importância maior ao dizer que agora ela é casada com uma mulher, ter sido mais formal, algo como subir no palco e bater duas vezes no microfone para “anunciar uma coisinha”. Não foi o que fez. Ela não se assumiu lésbica ou bissexual. Daniela Mercury apenas postou fotos com a esposa, o que qualquer casal heterossexual faria depois de passar um fim de semana em Poços de Caldas ou em Campos do Jordão. Daniela Mercury fez o que é rotina para quase todo mundo. Sem medo, sem alarde, sem dar maior satisfação. Agora ela é casada. Se é casada com outra mulher, é apenas um detalhe irrelevante.
Mas é exatamente assim que a união entre pessoas do mesmo sexo deveria ser encarada, como um detalhe que não faz diferença na vida de ninguém. Daniela Mercury escreveu no Instagram: “Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração pra cantar”. Poderia também ter dito alguma coisa sobre o casamento igualitário. Poderia ter adicionado uma hashtag engajada. Não fez. Seria até grosseiro se fizesse, afinal, são fotos da celebração de um casamento. E casamento, até onde sei, deveria ser mais importante na vida de uma pessoa do que sair do armário como um ato político.
O problema de sair do armário é a solenidade. Quando você se assume, está também criando uma importância para aquilo que deveria ser só um detalhe irrelevante. A princípio, a homossexualidade não deveria nem ser assumida, não deveria ser uma questão e muito menos um problema.
É preciso que falem mais isso: grande coisa ser gay. Tatuassem no braço, se possível. Enquanto encararmos a homossexualidade como algo extraordinário, com esse grau de importância, o casamento gay também vai ser visto como coisa de outro mundo.
Daniela Mercury não precisou se assumir. Pulou essa etapa. Se todo mundo está falando do casamento dela agora, se isso virou notícia, é porque a homossexualidade ainda é vista como uma questão; em outras palavras, como coisa de outro mundo. No dia em que sair do armário não for notícia, não vai ter muito mais por que combater a homofobia. Até lá, vamos depender de outros artistas e pessoas influentes se assumindo. Embora eu preferisse que fizessem como Daniela Mercury, já chegando junto com a esposa como se nada tivesse acontecido.
Agora um apelo aos jornalistas: parem de chamar a esposa de uma mulher de “companheira”. Que pudor!