Danilo Gentili é o Rei do Camarote do humor

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:30

danilo gentili

 

Danilo Gentili tenta virar símbolo do que enxerga como falta de liberdade de expressão no Brasil. Ele atribui os processos contra si a uma imensa conspiração da esquerda. Fala em “patrulhamento vermelho transvestido (sic) de indignação popular”. Apanha por ser um “indivíduo opositor que trabalha com humor”. “Essa última onda de ataques eu sofri logo após realizar na mesma semana um hang-out com Lobão e Olavo e dar entrevista para o Instituto Mises”, diz.

Um comentarista defendeu arduamente, aqui no DCM, a tese de que Gentili é atacado “pelo conjunto da obra antigovernista”. Essa vitimização é boa para ele. Mas a verdadeira patrulha é formada por aqueles que o colocaram nessa posição de mártir. No mundo paralelo do camarote do Gentili, vivemos um regime “chavista” — ou stalinista, ou lulopetista, à escolha do freguês — e ele está sendo perseguido.

Danem-se os fatos. Quais sejam, da última vez: ele fez uma piada com uma doadora de leite de Pernambuco; ela o processou, como lhe garante o estado de direito; ele perdeu. Danilo trabalha, fala e escreve o que quiser. Mas não se engane. Existe uma armação tentacular para cassar sua palavra.

No meio da paranóia e da mistificação, há um esforço para outorgar-lhe uma estatura moral, intelectual e artística que ele não tem. Desconfio que saiba disso. Mas a teoria conspiratória lhe é útil. Como era de se esperar, ele usa contra seus críticos os recursos das ditaduras que condena: são todos “petralhas”, “vermelhos”, “comunistas”, “vendidos” e, claro, “politicamente corretos”.

Não nego que DG sofra rejeição por conta de suas posições políticas. Mas fingir que cada ação na Justiça é fruto disso é cômico. Em seu camarote, é intolerável que alguém não ria de seus números. Como assim você não gostou? Como assim você o acha um humorista de segunda categoria?

Ele foi criticado por causa da piada sobre os judeus de Higienópolis? Vivemos uma ditadura dos Rosenberg! Ninguém gargalhou quando comparou King Kong a um jogador de futebol? Maldito regime africano! A moça que doa leite ficou ofendida e pediu uma reparação? Isso aqui é Cuba! (ou a Venezuela, à escolha do freguês.)

Suponha, apenas suponha, que Serra fosse presidente. Ou Marina Silva. Ou, sei lá, Roberto Carlos. Tanto faz. E que um porteiro processasse Gentili por ser chamado de macaco. Ele diria que é um perseguido político?

Por paradoxal que seja, Gentili só faz sentido se estiver num governo de esquerda. Se retirarem a sombra da tenebrosa ameaça vermelha, ele volta a ser o cara do fundão da classe, cuspindo bolinhas de papel com a Bic. Se toda a espuma ideológica sumir, o que sobra da comédia dele?

Pouca coisa. Gentili tem serventia apenas no camarote paranóico que ajudou a construir.