DCM Retrospectiva 2013: MTV Brasil, a morte discreta do ano

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:03

My-MTV

A situação da MTV Brasil em 2013 foi tão trágica, mas tão trágica que ela morreu… e quase ninguém notou.

A versão brasileira da MTV teve seus dias de glória e de bom trabalho. Mas isso, ao menos do ponto de vista da música (que sempre foi o carro-chefe da emissora), acabou ficando nos anos 90. No já não tão novo milênio, ela subiu no salto e achou que tinha muito mais influência do que de fato tinha.

A MTV brasileira não soube seguir a receita da MTV americana. Estava escrito “coloque farinha” e eles colocaram ovos. Acabaram engasgados com seus próprios ovos. Ou talvez tenha sido o contrário – eles tenham engasgado na sua própria farinha.

Se o Mumford & Sons toca no VMA o seu folk, nós temos que encontrar alguém para tocar folk no VMB, certo? Errado. O folk é a música folclórica anglo-americana. A nossa música folclórica é Chitãozinho e Xororó, Banda Calypso, Luan Santana. Eles, sim, tinham que ter tocado no VMB. Mas jamais seriam aceitos ali.

Da mesma forma, se lá toca R&B ou rap, gêneros extremamente populares por aquelas terras, aqui tinha que tocar axé ou funk carioca. Mas a MTV Brasil só foi tocar funk carioca depois que a matriz amaricana passou a tocar. E assim, conforme o rock foi sumindo do mainstream, a MTV Brasil sumiu junto, transformando seu melhor produto, o VMB, num prêmio de música underground.

A matriz da MTV sempre esteve atrás do que acontecia no mercado americano. A franquia brasileira sempre tentou se colocar à frente do mercado brasileiro.

Uma certa pesquisa feita há mais ou menos dez anos descobriu que para as pessoas, a MTV era vista como uma jovem mulher, moderna, com quem todos gostavam de estar por perto. Bem, a MTV Brasil foi mais ou menos como Gatsby, personagem de Francis Scott Fitzgerald que ganhou filme este ano: era cortejado loucamente quando dava as maiores festas de Nova Iorque, mas quando morreu, já quebrado e por baixo… ninguém notou.

É fácil para uma jovem linda, moderna e popular como a MTV foi, ser cortejada. Qualquer um, sob essas condições, é cortejado. Mas se ela se apoia só nisso, o que acontece quando o tempo passa? A jovialidade se torna velhice, a modernidade se torna obsolescência, a beleza se torna feiura. O que sobra para ela?

A MTV, como Gatsby, jamais teve amor de verdade. Aquelas pessoas que sorriam para ela apenas queriam convites para as festas – muito melhores que a programação, aliás.

Compartilhar
Artigo anteriorTarantino and friends
Próximo artigoDCM Retrospectiva 2013: MTV Brasil, a morte discreta do ano
Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ