De onde vem tanto ódio contra o PT?

Atualizado em 1 de março de 2015 às 19:43
Filhos da mídia
Filhos da mídia

Bresser Pereira resumiu o que acontece no Brasil de hoje: um grotesco sentimento de ódio coletivo dos ricos pelo PT e por Dilma.

Ele atribuiu a Lula e sua atribulada luta pela inclusão social de brasileiros ao longo de anos, décadas, séculos excluídos.

Mas se esqueceu de falar na contribuição milionária da imprensa para a disseminação do ódio.

A jornada de raiva da mídia começa exatamente com Lula, em 2003.

A Veja, antes uma revista respeitada e não um panfleto vil, assumiu desde logo o comando.

Dois articulistas foram chave nisso: Diogo Mainardi, na edição impressa, e Reinaldo Azevedo, na digital.

Eles deram o novo tom da revista. Falta de compromisso com os fatos e objetivo único de sabotar o governo eleito e, com ele, a democracia.

Progressivamente, o resto da imprensa foi seguindo o mesmo caminho.

Jornalistas e colunistas progressistas foram sendo afastados das redações, substituídos por derivações de Mainardi e Azevedo.

Aí foi perdido um equilíbrio tradicional: ao longo dos tempos, o direitismo dos donos encontrava um contraponto no progressismo dos chefes de redação.

Um dos exemplos notáveis disso foi Frias, o velho, e Claudio Abramo, na Folha. Ou Roberto Civita e Mino Carta, na Veja.

Foi dentro desse quadro que surgiu a multidão de vozes patronais nas principais empresas jornalísticas nacionais.

O que houve foi uma ocupação.

O pensamento diferente foi virtualmente extirpado. Mesmo a Folha, que se vangloriou durante muitos anos da pluralidade, foi ampliando os colunistas de direita e jogando fora os demais.

Não é coincidência que Reinaldo Azevedo, o símbolo do jornalismo patronal, seja hoje colunista da Folha.

Nos bastidores das redações, ocorreu o mesmo. Na Globo, ascenderam a postos essenciais jornalistas como Erick Bretas, hoje diretor de Mídias Digitais da empresa.

Bretas se notabilizou, recentemente, por pedir o impeachment de Dilma no Facebook e conclamar seus seguidores a acompanhá-lo no protesto de 15 de março.

A mensagem central da mídia pós-Lula tem sido instilar raiva num público intelectualmente vulnerável, destituído de preparo para distinguir jornalismo de propaganda política.

Para isso, jornais e revistas tentam desmoralizar de todas as formas o governo. A maior arma, aí, são acusações de corrupção, e não à toa.

Isso sempre funcionou no Brasil. A classe média é facilmente manipulada. Getúlio foi boicotado assim, e depois dele Jango também.

O ódio de classes que marca o Brasil de hoje deriva daí. Os “corruptos”, no discurso calculado da imprensa, estão acabando com o Brasil e enriquecendo à custa de todo mundo.

Danem-se os fatos. O importante é propagar essa visão.

Um dos efeitos colaterais disso é a venezuelização do Brasil. O brutal ataque a Mantega no Einstein é uma amostra perfeita da venezuelização: a fúria irracional das classes privilegiadas contra tudo que remeta a um governo de esquerda, ou centro-esquerda.

Por trás de tudo, se esconde uma verdade prosaica: os privilegiados, e deles a imprensa é o porta-voz, não querem abrir mão de suas mamatas.

É assim na Venezuela, é assim no Brasil.

Lamentavelmente, Bresser Pereira é um dos poucos privilegiados que conseguem enxergar a vida além de seus próprios interesses.

É por isso que ele é ignorado pela mídia.