De Picolé de Chuchu a Santo da Odebrecht: Alckmin e o pecado da hipocrisia. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 26 de abril de 2017 às 19:38
Santo
Santo

Geraldo Alckmin nunca se notabilizou pelo carisma. Foi conhecido, durante um bom tempo, como Picolé de Chuchu.

Faça e experimente um picolé de chuchu se quiser saber, na prática, o que o apelido significava.

Ele jamais deixou de ter as características de um picolé de chuchu, ainda que o apelido tenha progressivamente sumido.

Alckmin mostrou isso quando disputou a presidência com Lula, em 2006. Não foi um embate. Foi um massacre, mesmo com todo o apoio da mídia recebeu.

No momento-comédia de sua campanha, vestiu um macacão da Petrobras para tentar convencer os eleitores de que o PSDB não pretendia privatizá-la.

Mais recentemente, Alckmin recebeu um novo apelido. Menos engraçado, é certo, mas bem mais revelador — e incriminador: Santo.

Era seu codinome em planilhas ligadas a dinheiro sujo advindo de construtoras que financiaram campanhas suas — e de dezenas de outros políticos — com caixa dois. Às vezes, com dinheiro vivo.

O Santo está na manchete de hoje da Folha e dela pulou logo para as redes sociais. É um dos protagonistas da lista da delação da Odebrecht.

Deve-se cumprimentar o autor anônimo do apelido. Santo é uma escolha altamente inspirada. É o que Alckmin parece ser para muita gente — mas não para os departamentos de propinas das construtoras.

O Santo da Odebrecht é uma das maiores hipocrisias da República. O que ele fez está longe de ser novidade no putrefato mundo político brasileiro, embora para Moro e a Lava Jato só se trate de crime quando um petista está por trás.

O que torna revoltante a conduta hipócrita de Alckmin é ele atirar pedras em outros — petistas, é claro — enquanto, nas sombras, fazia a mesmíssima coisa.

Ele se candidata agora a Santo Padroeiro da Hipocrisia.

Quanto ao resto da história, podemos adivinhar. A mídia dará a menor repercussão possível, como aconteceu nos 23 milhões de Serra. A Lava Jato fingirá que nada ocorreu.

O Santo continuará sua carreira placidamente, imperturbado — e jamais tratado como corrupto. Poderá até receber um abraço fraternal de Moro caso se encontrem em algum evento.