De Temer à PM, sobrou para todo mundo na passagem da tocha por São Paulo. Por Donato

Atualizado em 24 de julho de 2016 às 21:02

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Como tem ocorrido em todos os locais por onde esteve (e prontamente escondidos pela Globo), a passagem da tocha olímpica pela avenida Paulista foi repleta de protestos.

‘Fora Temer’ era um deles, dos maiores e mais ruidosos.

“Este governo ilegítimo está em ação e se depender da grande mídia parece que estamos num clima de normalidade, o que não é verdade. Por isso temos que marcar presença na rua, para que não haja o entendimento de que este governo tem algum apoio popular. E se a mídia daqui não mostra, hoje a mídia internacional está presente e a opinião pública mundial pode ter notícias do que está acontecendo no nosso país”, disse Fernando Caldas, funcionário público.

Sobrou também para um dos patrocinadores oficiais. Em frente ao MASP, faixas e cartazes cornetavam a gigante Nissan.

“Estamos aqui porque acreditamos que uma empresa que não cumpre várias regras trabalhistas, entre elas um código de ética para ter todos os seus trabalhadores dentro de um acordo coletivo, não pode ser patrocinadora oficial dos jogos olímpicos, um evento que preconiza o fair play.

Dos 7 mil trabalhadores da fábrica do Mississipi, 40% são terceirizados que ganham metade ou às vezes um terço do que ganha um trabalhador regular”, afirmou Rafael Messias Guerra, do AW, um sindicato de metalúrgicos do Estados Unidos. Eles já fizeram atos em diversos locais por onde passou a tocha olímpica como Curitiba, Anápolis e Brasília, mas dizem estar sendo ignorados pela empresa. Quando o caminhão da Nissan passou pela avenida junto aos demais carros de apoio, foi vaiado.

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Um ataque coordenado de bexigas d’água que visava apagar a tocha foi abortado. O evento, marcado via redes sociais, certamente foi inibido pela ação espetaculosa da detenção de suspeitos de atos preparatórios terroristas. Do jeito que as coisas caminham, quem pode garantir que um inofensivo arremesso de um pouco de água não possa se configurar ataque terrorista e termine por enviar o praticante para a solitária sem direito a banho de sol nem contato com advogados?

O que se tem visto nesses eventos da tocha olímpica é um número bem reduzido de pessoas e a passagem pela avenida Paulista era uma oportunidade de retratar uma ‘multidão’ acompanhando e incentivando. Puro lance estratégico. Na verdade a Paulista é fechada para carros aos domingos portanto há sempre uma multidão ali de qualquer maneira. O desinteresse pelos jogos olímpicos está em níveis recordes. Mais da metade da população é contrária à realização e 63% acreditam que eles trarão mais prejuízos que benefícios.

Cinquenta mil ingressos foram devolvidos logo depois da decretação de calamidade no Rio de Janeiro e recentemente outras 20 mil pessoas cancelaram reservas em hotéis após receberem uma enxurrada de notícias como zika vírus, índice de criminalidade, ameaça de ataque terrorista, hospitais fechados ou recebendo a visita de traficantes dedicados a resgatar um de seus comparsas, a desistência de despoluir a baía de Guanabara, agentes de segurança esticando faixas com “Bem vindo ao inferno” e o próprio prefeito Eduardo Paes dando declarações pessimistas na imprensa internacional.

Se não veremos muitos espacos vazios nas arquibancadas, é porque nesssas horas distribuem-se convites a rodo. Assim, tudo junto e misturado é de chorar mesmo. Mas talvez a única certeza que temos é a de que no futuro sentiremos um certo embaraço ao lembrar das Olimpíadas por estas bandas, onde batedores da tocha olímpica foram atropelados por motocicleta da PM, ou onde laptops foram furtados durante o ensaio na arena olímpica (e os autores dos furtos eram os seguranças!!).

 

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