POR RIBAMAR MONTEIRO, de Brasília.
O senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, contrariou a decisão do PT e afirmou que vai votar a favor do afastamento de Áécio Neves determinado pelo Supremo nesta semana.
Na visão de Paim, defender a decisão do STF é defender a democracia e o respeito às instituições. “Se for para recorrer, que seja ao Supremo, não ao Senado”, diz.
“Eu voto como votei na questão do Delcídio, para que se cumpra a decisão do Supremo. É a última instância”.
Ele falou ao DCM.
DCM – Como avalia a nota do PT sobre o afastamento de Aécio Neves, contrária à decisão do STF?
Paim – Eu explicitei à bancada que no caso do Delcídio Amaral, um senador do PT, os parlamentares do partido foram liberados. Seria uma incoerência absurda que agora eu votasse diferente.
Votei a favor do afastamento do Delcídio, sou favorável ao afastamento do Temer e também ao afastamento do Aécio, para que seja julgado.
Sou favorável a que se cumpra a decisão do STF. Os ministros não estão nem pedindo a interferência do Senado. Eles apenas decidiram que o senador deve ser afastado e ficar recolhido em sua residência enquanto o processo é julgado.
Tivemos casos piores, como o do Delcídio, preso, e decidimos também pelo afastamento. Eu voto como votei na questão do Delcídio, pra que se cumpra a decisão do Supremo. É a última instância.
A nota revela incoerência do PT?
O partido, a sua Direção Nacional, toma a decisão e faz a recomendação que acha mais adequada. Consequentemente, cada senador vota de acordo com a própria consciência. Mais senadores do PT votarão de acordo com a consciência, a favor da decisão do STF.
Mas quem tomou essa decisão?
A Executiva Nacional recomendou. Em nenhum momento foi fechada questão, nem na bancada ou na Direção Nacional. Foi apenas uma nota fazendo ponderações sobre a avaliação que a Executiva tinha.
Mas a bancada está liberada. Não somente eu votarei pelo afastamento. Na questão do Delcídio, a nota foi também no sentido de votar contra ele e a bancada votou a favor.
Ou seja, a Executiva tem o direito de dar sua opinião, mas a bancada também se reúne e decide. E nesse caso decidiu deixar os parlamentares bem à vontade.
Um trecho da nota diz que a decisão vai fragilizar ainda mais as instituições…
Olha, essa declaração, dentro do campo institucional… Eu vi o [ex-presidente do STF] Ayres Britto falar de forma contrária, que é a última instância. Assim como FHC, do partido de Aécio.
Se queremos valorizar a democracia e o resultado do que é construído em toda a sociedade, temos que respeitar o papel do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Senão, quem vai decidir daqui para a frente?
Receio de novos alvos?
É o que se pode ouvir dentro do Congresso.
Tudo isso paralisa o Senado?
Estamos paralisados desde que começou o processo de impeachment da Dilma. Tiraram na marra a presidenta, um grande erro. E de la para cá é um chove não molha e nada mais funcionou.
Em seguida entraram as ações contra o Temer, as reformas irresponsáveis que ele quis fazer. Uma fez, a reforma trabalhista passou, provocando uma bagunça enorme com o Judiciário, ninguém sabe como aplicar, já que é uma contradição atrás da outra.
A reforma da Previdência ninguém sabe onde vai dar. É uma lambança generalizada, como eu disse que ia acontecer quando tiraram a presidenta eleita.
O senhor é a favor do fundo público?
É uma ilusão achar que quem paga a campanha não é a população.
Não existe não financiamento. A porta da corrupção é o privado. Mas tem que ter dinheiro para fazer a propaganda eleitoral. A proposta é equilibrada.