Dez teorias sobre o paradeiro do vôo da Malaysia Airlines

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 14:31

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Publicado na BBC Brasil.

 

Após mais de uma semana de desaparecimento do voo MH370, a Austrália anunciou ter identificado em imagens de satélite do mar dois grandes objetos, em uma área a 2.500 km da costa sudoeste do país.

Nesta quinta-feira, autoridades australianas afirmaram que os objetos podem ser a “melhor pista” encontrada até agora sobre o que aconteceu com o avião da Malaysia Airlines.

Noruega, Nova Zelândia e Estados Unidos auxiliam nas buscas pelos objetos, mas os trabalhos foram interrompidos com o cair da noite, sem que os objetos tenham sido avistados.

Segundo as equipes envolvidas, o mau tempo tem prejudicado seu trabalho e espera-se que eles possam ser retomados na sexta-feira.

Enquanto isso, continuam a circular diversas teorias sobre o voo MH370 em fóruns online e nas mídias sociais. A BBC conversou com ex-pilotos e especialistas em aviação para analisar algumas dessas teorias.

O governo da Malásia diz que o avião – com 239 pessoas a bordo – foi tirado de sua rota intencionalmente e pode ter voado ao norte ou ao sul de sua última localização conhecida.

O Departamento de Aviação Civil malaio afirmou que sinais do avião foram recebidos seis horas depois de um radar militar ter detectado-o pela última vez, no estreito de Malacca, às 2h15 locais de 8 de março.

Confira dez teorias – com diferentes graus de probabilidade – sendo debatidas sobre o rumo do MH370:

1) Aterrissagem nas ilhas Andaman

Em determinado momento, acreditou-se que o avião parecia ter seguido em direção às ilhas de Andaman e Nicobar, no extremo leste da Índia, entre a Indonésia e a costa da Tailândia e Mianmar.

Há relatos de que um radar militar local não estava operando.

O editor de um jornal das ilhas disse à ao canal CNN que o avião teria sido avistado ou monitorado pelo Exército indiano – e não passaria despercebido.

Mas o local é isolado: há mais de 570 ilhas, 36 das quais são inabitadas. Se o avião tiver sido sequestrado, ali poderia ser um local adequado – ainda que muito difícil – para pousá-lo em segredo, diz o ex-piloto Steve Buzdygan.

2) Voo ao Cazaquistão

A república centro-asiática está no extremo norte da extensão das buscas, então hipoteticamente o avião poderia ter pousado ali.

Para Sylvia Wrigley, autora do livro Why Planes Crash (Por que aviões se acidentam, em tradução livre), diz que pousos no deserto são possíveis e até mais prováveis do que um pouso em uma praia.

A ausência até agora de um manifesto detalhando a carga do avião despertou rumores de que a aeronave transportasse itens de grande valor – e passageiros supostamente bilionários -, um possível motivo para sequestro.

Mas o órgão de aviação civil do Cazaquistão argumenta, em comunicado enviado à Reuters, que o avião teria sido detectado se aparecesse ali. E há um problema ainda mais óbvio: o avião teria de ter cruzado os espaços aéreos de países como Índia, Paquistão e Afeganistão – que costumam monitorar cuidadosamente os voos por razões militares.

Ainda assim, é possível que haja falhas nos sistemas de radar em alguns desses países nessa rota da Ásia Central, argumenta Wringley. “Muitos equipamentos envelhecem” e podem deixar passar informações, ela diz.

3) Voo ao sul

O último sinal de satélite sugere que o avião continuou operacional por ao menos cinco ou seis horas após sair do alcance do radar malaio. Para Normal Shanks, ex-chefe de segurança da empresa aeroportuária BAA e professor de segurança aérea na Universidade de Coventry, no Reino Unido, a rota sul seria mais provável para um avião não detectado por radares.

A rota sul leva a grandes espaços abertos no oceano Índico e a áreas desabitadas da Austrália.

Sem saber o motivo do desaparecimento, é difícil especular o destino final do avião. Mas uma hipótese é que ele tenha voado até seu combustível acabar e se acidentado no mar ao norte da Austrália.

4) Pouso no deserto Taklamakan, noroeste da China

Há especulações de que o avião tenha sido tomado por separatistas uigures muçulmanos do oeste chinês. Dos 239 passageiros do voo, 153 eram cidadãos chineses. E a teoria é que ele tenha pousado no deserto de Taklamakan, em pleno território uigur.

A região, um dos maiores desertos do mundo, é um amplo espaço escassamente povoado.

Em 15 de março, autoridades malaias informaram à BBC que uma locação possível do avião era justamente algum lugar na fronteira entre China e Quirguistão.

Mas, novamente, essa teoria implica que os radares de vários países falharam.

5) Voo em direção às ilhas Langkawi

A ausência de comunicação e do transponder poderia ser explicada por um incêndio, sugeriu o blogueiro de aviação Chris Goodfellow, argumentando que a guinada à esquerda feita pelo avião (desviando-se de sua rota a Pequim) poderia ser por algum incidente a bordo e pela busca de um aeroporto próximo.

Goodwfellow afirma que esse aeroporto poderia ser o da ilha de Palau Langkawi, uma faixa de 4 mil metros no arquipélago Langkawi, na costa noroeste da Malásia.

Mas essa teoria está sendo contestada. Uma mudança de rota feita durante uma emergência provavelmente seria feita com o controle manual. Mas a guinada à esquerda foi, segundo apuração do New York Times, operada eletronicamente. Além disso, imagina-se que a tripulação teria comunicado o eventual incêndio à torre de controle.

As ilhas Langkawi
As ilhas Langkawi

 

6) O avião está no Paquistão

O empresário midiático Rupert Murdoch tuitou que o avião poderia “estar escondido no norte do Paquistão, como (Osama) Bin Laden”.

O Paquistão negou que isso fosse possível, alegando que seus radares não detectaram o avião.

Assim como a teoria do Cazaquistão, essa parece improvável pelo fato de o espaço aéreo na fronteira Paquistão-Índia ser fortemente vigiado por radares militares. E, apesar de ser uma região remota e sem lei, o norte paquistanês é acompanhada de perto por satélites e aeronaves não-tripuladas.

7) O avião se escondeu na sombra de outra aeronave

O blogueiro de aviação Keith Ledgerwood argumenta que o MH370 escondeu-se dos radares na sombra do voo 68 da Singapore Airlines, que estava próximo.

Ele acredita que o voo poderia ter escondido o da Malaysia Airlines em uma passagem pelos espaços aéreos de Índia e Afeganistão.

O voo 68 rumou à Espanha. O MH370 poderia ter se desviado dessa rota no meio do caminho, argumenta. “Há várias localidades ao longo do caminho do voo 68 em que (o MH370) poderia ter interrompido contato e rumado para Xinjiang (área uigur na China), Quirguistão ou Turcomenistão”, diz.

Hugh Griffiths, especialista em radares da Universidade College London, diz que a teoria é factível. Mas há diferenças entre radares militares e civis: os civis usam o transponder da aeronave; os militares usam radares primários que implicam em resolução maior e possivelmente perceberiam se dois aviões passassem por ele, mesmo que próximos. A questão é como isso seria interpretado pelos observadores em terra – e se a informação seria descartada ou não.

8) Houve briga a bordo

O avião voou de forma errática, acima de seu “teto” e depois abaixo. Para Buzdygan, as grandes flutuações em altitude sugerem que houve alguma briga.

Após o 11 de Setembro, portas da cabine foram reforçadas para evitar sequestros, mas ainda há cenários possíveis em que criminosos poderiam ter entrado ali – e o piloto pode ter voado de forma agressiva para resistir e confundir os sequestradores, defende Buzdygan.

9) Os passageiros foram mortos deliberadamente por descompressão

Outra teoria defende que o avião subiu a 45 mil pés para matar os passageiros rapidamente, diz o ex-navegador da Força Aérea Britânica Sean Maffett. O suposto motivo seria impedir que usassem celulares quando o avião descesse.

A 45 mil pés, o Boeing 777 está muito acima de sua altitude operacional normal, o que poderia despressurizar a cabine, diz Maffett.

Máscaras de oxigênio cairiam automaticamente, mas o gás acabaria após 12 a 15 minutos. Os passageiros ficariam inconscientes e morreriam, ele prossegue. Mas quem quer que estivesse no controle da situação teria o mesmo fim – a não ser que tivesse acesso a algum outro suprimento de oxigênio.

10) O avião voltará a decolar para ser usado em ataque terrorista

Uma das teorias mais bizarras diz que o avião foi roubado por extremistas para cometer um atentado semelhante ao de 11 de Setembro. A aeronave teria pousado, sido camuflada e ganho um novo transponder – para então decolar e atacar algum alvo.

Maffett diz que tal operação seria muito difícil, ainda que não possa ser descartada. “Estamos num ponto em que cenários muito difíceis devem ser considerados, já que as opções sensatas parecem ter sido eliminadas.”

Mas há quem diga que, mesmo que o avião tenha conseguido pousar, ele dificilmente estaria em bom estado suficiente para decolar de novo.

Outras teorias

Há outras teorias que estão sendo discutidas, muitas delas consideradas pouco plausíveis.

Uma delas especula que um incêndio, provavelmente causado por um curto-circuito ou por um superaquecimento de um dos pneus do avião durante a decolagem, gerou fumaça na cabine logo após a tripulação se comunicar pela última vez com os controles de tráfego aéreo.

Por isso, o piloto teria desviado de sua rota e buscado a pista mais próxima para um pouso de emergência, enquanto desligava os equipamentos, como o transponder, para isolar o problema.

A fumaça gerada pelo incêndio teria dominado a cabine, o que teria feito com que o avião seguisse em piloto automático, sobrevoasse o arquipélago de Langkawi, onde estaria a pista, e avançasse sobre o Oceano Índico, onde o combustível teria acabado e o avião, caído.

Popular em redes sociais e repercutida por órgãos da imprensa americana, a teoria foi rapidamente desconsiderada. Segundo especialistas, o avião continuou a ser manobrado depois de passar por Langkawi.

Outra teoria diz que, se o avião tivesse rumado ao norte, provavelmente teria sido derrubado em algum dos países cujos espaços aéreos poderia ter cruzado, mas o país culpado por isso se recusa a admitir ter feito isso por causa da repercussão negativa que isso teria.

Acredita-se que o avião possa ter cruzado os territórios de Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão, Paquistão, Bangladesh, Índia, China, Mianmar, Laos, Vietnã ou Tailândia.

Após o 11 de Setembro, aeronaves que entram em espaços aéreos soberanos costumam ser alvejadas, diz Maffett.

Mas há falhas nessa teoria. Primeiro, o avião ainda teria de ter passado por diversos radares; além disso, o país responsável por sua derrubada conseguiria acobertar isso até que ponto?

Outras improváveis teorias da conspiração circulam online – uma delas de que os EUA teriam “capturado” o avião e levado a uma base no meio do Índico; outra, de que os “sequestradores” do avião contaram com a ajuda de algum governo (ou operador de radar) autoritário.

Novamente, questionam-se a complexidade e a dificuldade em manter isso em segredo por tanto tempo. E qual seria o motivo para tal ação?