‘Um dia que você dedica aos outros jamais será um dia perdido para você mesmo’

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:49
Dickens

 

Tolstoi tinha um retrato dele em sua mesa de trabalho, e o definiu como o maior romancista do século 18.

Dickens. Charles Dickens.

É dele que estou falando. A Inglaterra festeja hoje, com alarde, os 200 anos de nascimento de Dickens.

Uma biógrafa de Dickens publica no Guardian uma carta a ele. Ela lembra que ele próprio era avesso a comemorar datas, ressalvadas algumas exceções. Com um grupo de amigos, por exemplo, Dickens festejou os 200 anos da execução do rei Carlos I, o que mostra o quanto ele abominava “maus governantes”.

Escritor nenhum retratou a era vitoriana tão bem quanto Dickens. Isso é universalmente aceito. Eram tempos – sob a rainha Vitória – de uma colossal desigualdade social. Poucos ricos, muitos pobres. Em suas obras, e também em sua vida real, Dickens esteve sempre alinhado com os desvalidos.  “Um dia que você dedica aos outros jamais será um dia perdido para você mesmo”, escreveu ele. (Se você for ler um único livro de Dickens, recomendo Conto de Natal, em que ele criou a figura do avarento Scrooge, nome que Walt Disney adotaria para seu Tio Patinhas.)

Seu conhecimento milimétrico de Londres nasceu de suas caminhadas por Londres. Ele andava, andava e ainda andava pela Londres de seus dias em busca de inspiração para seus romances, obtida em pessoas e lugares.

As favelas de seus dias desapareceram, bem como os pontos de prostituição, como nota a biógrafa. Isso o alegraria. Mas a desigualdade que tanto o incomodava voltou a se acentuar brutalmente nas últimas três décadas – e não existe nenhum Dickens para tomar, com a pena, o coração e o talento descomunal, a defesa dos pobres, ou, para usar a expressão dos nossos dias, dos “99%”.