Dilma precisa bater panelas também

Atualizado em 20 de março de 2015 às 12:57

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Dilma Rousseff hoje é reprovada pela maioria da população. Não foi o caso há seis meses, no dia do pleito em que foi eleita presidente com 54 milhões de votos. E, de maneira semelhante, pode não ser o caso daqui a seis meses.

O país quer paz e resolução, aquilo que em inglês se chama de “closure”. Tenho certeza de que as forças antidemocráticas que hoje clamam do impeachment à intervenção militar são uma minoria infeliz. O brasileiro quer se sentir seguro para tocar sua vida.

O governo está dando isso ao cidadão? A impressão que se tem é de que a oposição perdeu a batalha da eleição mas vem ganhando a guerra de nervos da política. Aí acaba-se tendo que engolir frases assim: “Não precisamos de oposição nesta casa”, disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) após o sincericídio do ex-ministro Cid Gomes. “Este governo produz uma crise por dia.”

Dilma precisa olhar no olho e falar direto a quem não gosta dela (tarefa a cada dia mais fácil). Precisa se dirigir, inteligentemente, a quem a chama de nomes impublicáveis. A quem distribui piadas misóginas no whatsapp da família, sem perceber o mal que está fazendo aos mais jovens. Àquele pai que ensina o filho de quatro anos a xingar uma senhora de 67 anos.

A líder desta nação precisa de calma e coragem para se dirigir a quem lhe faz bullying. Em nome da democracia.

Acredito que a presidente tenha dificuldades inatas na área da comunicação e já demonstrou isso antes. Ela se enrola com as palavras e parece desconfortável diante da lente das câmeras, salvo exceções, como em Goiânia, quando mandou bem ao atacar o discurso de ódio das ruas: “Diálogo implica que a gente olhe o próximo, aquele com quem nós dialogamos, como uma pessoa igual a nós, que a gente tenha a humildade de nos colocar a nível de todos e não nos acharmos nem melhor, nem pior que ninguém.”

Mas para cada Goiânia há um punhado de silêncio. Dilma cancelou o programa de rádio “Café com a Presidente”, criação de Lula que atingia os milhões de brasileiros que ainda têm no aparelhinho companhia perene.

Se a presidente continuar cedendo espaço à própria timidez, governar se tornará ainda mais difícil, senão impossível. Na cabeça do povo, quem apanha calado é culpado.

Presidente Dilma, quer uma dica? Todo mundo sabe qual é a receita para fazer apelido não pegar: entrar na brincadeira. Se jogar na zoeira. Jogo de cintura. É assim que se desarma a bomba do bullying.

Em sua próxima fala em rede nacional, quando o cidadão já estiver com a panela congelada no ar esperando para dar a primeira pancada, apareça você com uma panela na mão diante das câmeras em seu gabinete.

Aí você solta o braço e bate sua panela. Bate com força, mas muita força, para que o barulho atravesse a rua, a praça dos Três Poderes e chegue até o prédio das duas semiesferas. Alguém lá vai ter que se juntar a você e bater, também, panelas pela democracia e contra o ódio neste país.