Do Bolsa Família ao PT, Gilmar sempre falará o que esperam dele sem precisar de ligações dos Bonners. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de outubro de 2016 às 11:48
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Em suas mais recentes pontificações universais, o ministro do STF Gilmar Mendes iluminou os brasileiros com a verdade sobre o Bolsa Família.

Do alto de um lugar que foi ocupado por Caetano Veloso, o de opinionista oficial da nação, revelou que “querem um modelo de fidelização que pode levar à eternização no poder. A compra de voto agora é institucionalizada”.

Gilmar está eternizado no poder sem nunca ter precisado das urnas. Ele está acima dessas bobagens. Inclusive do Código de Ética da Magistratura, que reza que a”o magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a busca injustificada e desmesurada por reconhecimento social, mormente a autopromoção em publicação de qualquer natureza”.

Na mesma palestra promovida pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abidib) e pela Câmara Americana Comércio (Amcham), ele também destruiu o TST.

“Esse tribunal é formado por pessoas que poderiam integrar até um tribunal da antiga União Soviética. Salvo que lá não tinha tribunal”, falou, para gáudio da plateia. “[Eles têm] uma concepção de má vontade com o capital”.

Em nota, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, Anamatra, condenou as “novas agressões” e o “uso de expressões e alusões jocosas” de GM. Óbvio que não vai dar em nada.

Gilmar fala o que quer e seguirá desta maneira porque diz o que interessa ao que Elio Gaspari denomina andar de cima. É um sistema de retroalimentação.

Em agosto, foi noticiado que o advogado, professor de ética e celebridade do YouTube Clóvis de Barros Filho terá de indenizar Gilmar por causa de uma história que ele narra num de seus livros.

“Fui a uma reunião de pauta do Jornal Nacional, e o William Bonner liga para o Gilmar Mendes, no celular, e pergunta. ‘Vai decidir alguma coisa de importante hoje? Mando ou não mando o repórter?’. ‘Depende. Se você mandar o repórter, eu decido alguma coisa importante.’”

Houve um acordo. Gilmar levou 10 mil reais por danos morais. Além disso, a obra terá de ser recolhida das livrarias e ser substituída por uma nova edição, sem aquela passagem.

Eu tentei falar com Barros Filho sobre o episódio. Não me atendeu. Segundo sua editora, ele “decidiu não levar adiante o processo”.

É difícil crer que um professor de ética inventaria uma cena dessas. Teria mentido na cara dura? Provavelmente, ele não tem provas.

Mas o fato é que Bonner e quejandos não precisam ligar para Gilmar combinar nada. A sintonia é perfeita. Do Bolsa Família ao PT, da Ficha Limpa ao impeachment — Gilmar não decepciona. Por isso terá o microfone aberto.

O destemperado Joaquim Barbosa foi definitivo sobre o ex-colega: “Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país”, atacou, numa sessão do Supremo. Barbosa, ao menos, se aposentou. Mendes ficará para sempre.