Donadon e as manifestações de 7 de setembro

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:32

Se faltava um outro motivo para o grande protesto que está sedo anunciado, a Câmara acabou de dar mais um.

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Se faltava um gancho para que as comemorações do 7 de setembro entrassem em ebulição, o gancho aplicado no queixo da população pela Câmara dos Deputados pode ter sido útil.

O deputado Natan Donadon cumpre pena por desvio de dinheiro público (R$ 8 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia) e é um dos detentos do presídio da Papuda. Saiu do cárcere para a sessão que votaria sua cassação, fez discurso de 40 minutos (ultrapassou os 25 minutos regulamentares apoiado por dezenas de deputados que ordenaram: “Deixa ele falar!”), reclamou da cadeia, da fobia a lugares fechados, das algemas que haviam lhe machucado os punhos. Uma deputada chegou a chorar e ao final do discurso só faltou Donadon ser carregado nos ombros como herói tamanha a receptividade e abraços efusivos.

Por que essa reação? Não há mesmo que se espantar com o comportamento dos deputados. O caso Donadon lhes é muito próximo, todos ali sabem que correm o mesmo risco, praticam as mesmas coisas. Não veem incompatibilidade em um deputado permanecer com seu mandato mesmo após ser condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias de cadeia pois o raciocínio “poderia ser comigo” lhes assalta a mente. Faz sentido para eles. Sentem-se mais humanos ao inocentar o colega.

A não cassação do mandato de Natan Donadon às vésperas do evento tão comentado nas redes sociais demonstra que o propalado “Estamos ouvindo vocês” que não só o governo mas todos os partidos hoje utilizam em seus horários políticos caiu no vácuo. A falta de sintonia entre poder público e povo permanece a mesma.

A “Operação 7 de Setembro” deflagrada na internet e que se intitula “a maior manifestação da história do brasil” apresenta números que impressionam. Já contabilizando adesões em mais de 130 cidades, são, até o momento, 4.741.075 convidados dos quais 350.548 confirmaram participação e 126.120 clicaram na opção “talvez”.

Esses números certamente se ampliarão pois a Operação 7 de Setembro está muito identificada com setores da direita. Os movimentos sociais e partidos de tendências esquerdistas pouco estão anunciando sua participação mas sabe-se que não ficarão em casa assistindo pela TV. O emblemático Manifesto POA, por exemplo, irá usar a data para pedir a desmilitarização da polícia, bem como a Frente Independente Popular Rio é das poucas que admite que sairá às ruas.

Membros de grupos de difícil definição como o Anonymous (a quantidade de subgrupos é enorme, uns mais à direita, outros mais à esquerda e muitos impossíveis de rotular) estarão também presentes em grande número.

Demonstrando pelo menos alguma atenção à enorme probabilidade de confusão, o Palácio do Planalto detectou um “Ocupe Mané Garrincha” – o estádio em Brasília – nas redes sociais mas as autoridades não garantem que esteja desarticulado. O suposto ato consistiria na compra de ingressos para o jogo que as seleções de Brasil e Austrália farão naquela data (de quem foi essa genial ideia??), por parte de manifestantes que, ao final da partida, não se retirariam do estádio, ocupando-o com a finalidade de tumultuar a Copa.

Toda prudência é de fato aconselhável e o Ministério da Defesa está empenhado em detalhes de segurança e infraestrutura do evento. Entre as medidas, já está decidido que o tempo da apresentação será reduzido em pelo menos 15 minutos para evitar a exposição de autoridades políticas, principalmente Dilma Rousseff, além de civis e militares que participarão da parada. Cogita-se inclusive vetar a participação de crianças no evento. Sobre deputados, ninguém fala nada.