Doria não é o ‘novo’, o eleitor paulista é que é velho. Por Mauro Donato

Atualizado em 3 de outubro de 2016 às 10:47
Criatura e criador
Criatura e criador

 

Não importa o quanto Fernando Haddad foi (é) bom prefeito. O quanto acertou com ciclovias, faixas de ônibus etc. Não importa se Haddad tentou aplicar um IPTU progressivo. A população não entendeu porque a grande mídia não fez questão nenhuma de explicar e vendeu a iniciativa como ‘aumento do IPTU’. A redução da velocidade nas ruas e avenidas foi transformada em ‘indústria da multa’ e seus resultados positivos jogados para baixo do tapete.

Pouco importa o que Geraldo Alckmin faz de espuma sem efeito prático nenhum com seus CDHUs em regiões onde nem défict habitacional existe. Enquanto a delação da Odebrecht é mantida estrategicamente em banho-maria, a população nada saberá das propinas no metrô paulista envolvendo o governador e a cúpula tucana.

O que importa é que a indústria de destruição do PT deu certo. A rejeição ao PT colou em Haddad, um prefeito que esteve à frente do que São Paulo consegue entender.

Haddad rodou por conta da imensa onda empenhada em difamar a política que atinge sobretudo o cidadão mal informado e vulnerável à desinformação prestada pela grande mídia, o que explica o paradoxo do petista ter sido bem votado num bairro como Pinheiros mas o rico João Doria ter vencido em todas as regiões de periferia.

O sistema que planta a descrença para colher fórmulas mágicas é o responsável por eleger o ‘não político’ (o que comprova que se a eleição para presidente da república fosse hoje, um aventureiro como Sérgio Moro levaria fácil). A campanha baseada na ‘novidade’ sai assim vitoriosa.

De modo totalmente irresponsável, sem apresentar plano de voo, encarnada no tal ‘gestor competente’ sendo que uma cidade não é uma empresa e nem deve funcionar como tal. Ou vamos a partir de agora ter nossas condutas como cidadãos medidas em avaliações de desempenho sobre performances, produtividade, obediência ao dress code?

João Doria não deveria ficar tão exultante com a inesperada vitória em primeiro turno, algo inédito na eleição municipal. Seu total de votos (3.084.910) é inferior ao total de votos brancos, nulos e abstenções (3.095.925). Doria está longe da popularidade que imagina. Quando somados os votos válidos dos demais candidatos aos brancos, nulos e abstenções então, vê-se o tamanho da encrenca.

Mas o maior derrotado é o povo, mais uma vez. São Paulo terá um futuro tenebroso pelos próximos anos. Com a atual trinca Temer/Alckmin/Doria podendo em dois anos transmutar-se para Alckmin no Planalto/Alexandre de Moraes no governo/Doria na prefeitura, uma máquina de moer questões sociais está formada.

Uma usina de triturar pensamentos progressistas, com forte apelo conservador e de todas as bandeiras retrógradas que essa turma enverga: o discurso da homofobia, da xenofobia, do racismo, de que bandido bom é bandido morto, que pobre deve mesmo ficar na periferia e preferencialmente cercado com arame farpado, podendo sair apenas para trabalhar. O ensino público é sepuultado de vez e a educação volta para o patamar histórico de só atender às classes dominantes.

Parabéns eleitor de São Paulo. Agora é só aguardar pelo nosso Trump em 2018.