Meu caso de amor por Dostoievski

Atualizado em 15 de abril de 2013 às 14:20

Eu sonhava escrever romances como ele.

 

Noites Brancas com Mastroianni
Noites Brancas com Mastroianni

Dostoievski. Como o amei, Deus. Lia Dostoievski com devoção. Nos romances de Dostoievski há uma simpatia total pelos “humilhados e ofendidos”, e eu me sentia, de alguma forma, um “humilhado e ofendido”.

Acabo de baixar no Kindle do iPhone Os Possessos, e estou tendo momentos de enlevo relendo na tela diminuta o romance em que Dostoievski traçou um retrato impiedoso dos revolucionários russos da segunda metade do século XIX. É um romance caro para mim. Tenho até hoje a edição que meu tio Julio Spano me deu quando eu era ainda um adolescente que sonhava ser escritor.

Mas meu livro predileto de Dostoievski é outro: Noites Brancas, pequenininho, romântico, escrito quando ele era jovem. Estou com Noites Brancas agora nas mãos, e fui direto ao final, a parte que mais me comoveu. É um livro vital em minha formação intekectual e pessoal.

No final, o narrador, aspirante a escritor, vê sua amada, Nástienka, partir rumo a um homem bem mais interessante que ele, e diz: “Erguer uma nuvem escura sobre sua felicidade clara e serena; levar tristeza ao seu coração, acusá-lo e fazê–lo amargar um remorso secreto, obrigando-o a bater tristemente num momento de júbilo; pisar uma só das flores ternas que adornarão suas madeixas negras quando for com ele ao altar … Oh, nunca, nunca! Que seja claro o seu céu, que seja luminoso e sereno o seu lindo sorriso; abençoada seja você pelo momento de júbilo e felicidade que concedeu a um coração agradecido. Meus Deus! ! Não será isso o bastante para uma vida inteira?”

É uma das coisas mais lindas que já li. Achava isso há quarenta anos, e continuo achando hoje.