E eu com o monstro? Por Marcius Cortez

Atualizado em 6 de outubro de 2017 às 14:59
Kubrick

POR MARCIUS CORTEZ, publicitário e escritor.

No ano de 2013 a exposição Stanley Kubrick levou um público de 55 mil pessoas ao MIS de São Paulo. Entre elas eu que já desenvolvia um livro sobre o diretor. Ora, era muita gente. Tratei de caprichar.

Ao todo foram 8 anos de leituras, cursos, pesquisas, entrevistas, longas horas diante dos filmes e viagens pelo mundo afora, Estados Unidos, Europa e Ásia. Isso sem falar no ato de escrever e reescrever já que me mantendo fiel ao pensamento de SK, visava o profundo e o interessante. “Real is good, interesting is better”, era uma das frases preferidas do mestre.

A explicação que tenho para justificar o interesse pela filmografia do diretor é o seu perfeccionismo. O ator Malcolm Mc Dowell, o Alex de “Laranja Mecânica”, o chamava de Deus pois Kubrick se fazia presente em todos os momentos. Absoluto em sua autoconfiança, ele conhecia cinema de trás para frente, da cozinha ao laboratório, das câmeras e dos seus infinitos recursos.

De fotografia então nem se fala. Foi o único diretor poupado pelos fotógrafos. Entre os diretores de fotografia se propagou a crença de que todo realizador na próxima encarnação deseja ser fotógrafo. Menos um. Quem? Justo ele, o monstro.

Seu cinema era governado pelas emoções e pela beleza. Seguramente esse último aspecto era a razão de ser da sua arte. Tudo tinha que ser executado com perfeição e essa perfeição resultava na beleza. Nesse ponto pensava igual a todo grande cineasta: o cinema, senhores e senhoras, é ritmo, o cinema, distinto público, é ritmo.

Na citada mostra conheci Christiane Kubrick e Jan Harlan, esposa e cunhado do diretor. Falei sobre meu projeto. Eles foram simpáticos e receptivos. Expliquei que se tratava do primeiro livro escrito por um brasileiro dedicado ao impertinente inventor de “Dr. Fantástico”.

O conteúdo da minha obra está expresso no título: “Stanley Kubrick: o monstro de coração mole” Monstro porque é um gênio e coração mole porque ao contrário do alardeado o diretor aspira por uma Lei que estabeleça uma ordem no universo.

Sua arte se diferenciava das demais porque ele se atirava de corpo e alma na busca de uma reviravolta, uma morbidez, uma paixão incontrolável ou uma risada espalhafatosa. Seus filmes fotografados com maestria são bulas para o público compreender o mundo e não desanimar diante da irracionalidade de seu funcionamento.

Por certo, Kubrick foi o diretor que mais se libertou de seus condicionamentos para vagar pela plenitude da arte solta. Trabalhou com roteiros e ideias dos outros, mas colou em todos eles o deslumbre de sua arquitetura, a marca de sua fatura.

Participava de tudo e em tudo exercia o seu rigor monstruoso, algo inconcebível como conferir uma a uma as 700 cópias de “O Iluminado” dias antes do filme entrar em cartaz na sua cidade natal, Nova York. 

O lançamento de “Stanley Kubrick: o monstro de coração mole” acontecerá no próximo dia 10 de outubro, na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509, a partir das 18h30.

Os comentários que faço ao longo do texto, 211 páginas, levam em conta as dualidades na filmografia de SK tal como enunciado por seu principal intérprete, o crítico francês Michel Ciment. Mas chamo atenção que Kubrick vai mais além do que isso. Eu tento provar que o compromisso de seu cinema é o espetáculo e a grandeza d’alma.