É possível fazer humor feminista?

Atualizado em 8 de maio de 2013 às 22:11

Feministas podem não ter graça, mas o “humor a favor” de Louis CK tem.

Actor Louis C.K. arrives at the Hollywood FX Summer Comedies Party in Los Angeles, California

A batida expressão “politicamente incorreto” virou uma desculpa, no Brasil, para uma lista interminável de comediantes contar piadas estúpidas de gordos, deficientes, mulheres, gays, judeus, negros etc. Em qualquer show de – socorro – stand up a ordem é ofender. É como se os esquetes dos Trapalhões do início dos anos 80 – em que o crioulo Mussum respondia ao cearense cabeça-chata Didi, enquanto a bicha Zacarias fazia muxoxo – tivessem sido turbinados com uísque & Red Bull. Eles só acrescentaram política no meio, ainda assim tirando sarro de alvos fáceis como, digamos, o cabelo da Dilma.

(A exceção, registre-se, é o grupo Porta dos Fundos. Mas eles não são o assunto).

“Não existe humor a favor” é o clichê repetido.

Não existe?

Bem, então avise Louis CK, provavelmente o melhor humorista em atividade hoje. Louis tem todas as virtudes e defeitos necessários ao sujeito engraçado: inadequação, inteligência, crueldade e raiva de si mesmo.

Louis pode ser definido, hoje, como o primeiro humorista feminista do mundo.

Não que feministas sejam divertidas – não são –, mas Louis é. Ele adora detonar suas filhas. Em seus números, depois de dizer como elas arruinaram seu casamento, ele entra num looping sobre as mulheres. Você encontra no YouTube. Em seu último espetáculo, Oh My God, ele pergunta, coçando o barrigão, invariavelmente com uma camiseta preta com manchas de maionese: “Como é que as mulheres ainda saem com caras, quando se sabe que não há maior ameaça para elas do que homens? Nós somos a ameaça número 1! No mundo e historicamente, somos a maior causa de agressões a elas. E sabe qual é a nossa ameaça número 1? Ataque cardíaco”. Ele continua: “Se você for um sujeito tentando entender a situação da mulher, tente imaginar como se sentiria se só pudesse sair com algo meio-urso, meio-leão. ‘Oh, espero que esse seja legal’”.

(Compare, brevemente, com o gênio Danilo Gentili: “As piadas são como as mulheres: as mais fáceis geralmente são velhas ou feias”. Não é que seja só ofensivo. É que não tem graça nem em bar de posto de gasolina na estrada, depois de 25 rabos de galo)

Para CK, os homens acham que mulheres são carentes porque querem ficar agarradinhas depois de fazer sexo. “Ela não está carente, seu idiota, ela está com tesão porque você não fez nada direito”, diz ele. “40% delas ficam pensando, depois… ‘Eu vou superar isso essa semana. Não é a pior coisa do mundo. Eu não vou chorar desta vez.’”

É fácil dizer que ele está fazendo média. Louis CK está, na verdade, invertendo uma lógica e sendo original. Sim, ganha simpatia com isso, mas é da natureza de seu ofício. Seu cinismo e sua maldade continuam lá (aliás, como a sua má vontade com gente que o interrompe durante sua fala, frequentemente estraçalhada em público). Ele pode ser extremamente grosseiro. Fala palavrão às pencas. Já disse barbaridades sobre e para Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e ex-vice-candidata a presidente pelo Partido Republicano.

Tomou muita porrada. Mas acabou transformando em outra coisa. É “humor a favor”? Não sei. Continua sendo engraçado. É uma evolução. Não cabe na definição estreita de “politicamente correto”. E, acima de tudo, não é burro.

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