E se alguém escrevesse sobre a mulher de Nelson Motta como ele fala da mulher de Lula? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 19 de dezembro de 2015 às 9:01
Nelson Motta
Nelson Motta

 

De todos os sub jabores que surgiram nos últimos anos, poucos desempenham um papel tão patético quanto Nelson Motta.

Sem formação política, ex-escada de Paulo Francis no Manhattan Connection (era chamado por Francis, de maneira indulgente, de “Nelsinho”), o jornalista tem uma coluna no Globo há décadas.

Migrou da resenha de música para a detonação de qualquer coisa ligada a Dilma, PT, Lula etc, o que dá mais ibope. Em seu artigo mais recente, conseguiu tratorar um inimigo perigosíssimo: a mulher de Lula, Marisa Letícia.

Baseado no que lê de terceira mão sobre as supostas desavenças entre Lula e Dilma em torno da operação Zelotes, Motta escreve que “em oito anos de lulato ela [Marisa] nunca abriu a boca (cada vez maior) em público”.

“No núcleo duro lulista, sabe-se que ele morre de medo da ‘Galega’, e uma vez chegou a se queixar a jornalistas que, por desobedecê-la em alguma decisão política, estava sofrendo uma greve sexual em casa e, sabe como é, Lula não passa sem um sexozinho”, continua.

“Imaginem as opiniões da eminência loura sobre o atual momento do Brasil e da família Lula da Silva.”

Chutando a esmo, Motta chama uma mulher que nunca viu e que, até onde se sabe, não cometeu nenhum crime, de vaidosa viciada em plásticas, burra, manipuladora e corrupta.

Tudo bem? Claro que sim — porque com Lula e família vale tudo. Mas só nesse caso, porque Motta é um mestre da bajulação de poderosos, um puxa saco de primeiríssima classe.

Há uma blague segundo a qual não existe documentário musical no Brasil sem um depoimento dele. Por inércia e ignorância dos produtores, Nelson acaba entrando em qualquer coisa porque, desde os anos 60, pega carona em artistas da MPB ou roqueiros.

É um personagem marginal, um coadjuvante completo, que se vende como protagonista.

Vem faturando com biografias de mortos repletas de invenções e conjeturas esdrúxulas. Em “A Primavera do Dragão”, sobre Glauber Rocha, trocou o nome de um grande amigo do cineasta, o “Bananeira”. O resultado: páginas e páginas de histórias atribuídas a outro cidadão. Além disso, a atriz Sonia Pereira, do filme “Mandacaru Vermelho”, é identificada como Sonia Coutinho. Sem contar os demais erros.

Biógrafos sérios de Glauber classificaram a empreitada de “picaretagem editorial”.

Valente de ocasião, se deixa subjugar também por figuras como Roberto Carlos. O filme sobre Tim Maia, baseado no livro de Nelson, tinha uma cena em que um assistente de Roberto atira uma nota de dinheiro amassada para um suplicante Tim.

Roberto reclamou, a sequência foi eliminada da versão para a TV Globo — e o próprio Nelsinho saiu em defesa do rei, desmentindo a si mesmo, algo provavelmente inédito na história da dramaturgia.

“O Roberto, acho que era tranquilo com ele, porque sabia o valor que o Tim tinha como cantor e compositor, tanto que levou o Tim para a Jovem Guarda. O Roberto fez o que pôde”, disse o incrível Nelsinho na Globo.

Nelsinho já pensou se fizessem com ele o que ele faz com suas vítimas? E se alguém descrevesse, digamos, as sessões de botox de suas ex Marília Pera, Costanza Pascolato, Marisa Monte? E se alguém tecesse considerações sobre a capacidade intelectual de suas filhas Joana, Esperança e Nina?

Caetano Veloso apontou que Nelson Motta foi o único crítico musical que fez carreira sem falar mal das pessoas. Seria preciso acrescentar “algumas pessoas” a essa descrição.

O grande talento de Nelsinho é o de ser um sicofanta seletivo. Um doce de coco com gente como Caetano, uma hiena maldosa e desonesta com quem não tem como se defender.