Enquanto Temer corta na saúde e na educação, você paga um quarto novo para Michelzinho. Por Mauro Donato

Atualizado em 14 de outubro de 2016 às 9:57

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O teto para uns, o céu aberto para outros. Quando voltar de sua viagem à Asia (a quinta viagem internacional em cerca de dois meses de governo golpista efetivo), Michel e Marcela Temer irão cuidar da mudança para o Palácio da Alvorada. Antes, o quarto de Michelzinho será ‘adaptado’.

O local também irá receber uma outra adaptação para acomodar a primeira-dama em sua função de ‘embaixadora do programa social Criança Feliz’. Marcela Temer não quis que seu gabinete fosse no Palácio do Planalto, com vista para a Praça dos Três Poderes, e preferiu trabalhar ‘em casa’. Como se vê, por Criança Feliz entenda-se Michelzinho, que terá sua mãe trabalhando ali no quarto ao lado.

Quanto irá custar a brincadeira? O Planalto não informa. O casal irá bancar a reforma do próprio bolso? Obviamente que não. Mas… e a PEC do teto dos gastos públicos?

Sim, a PEC ainda não passou em definitivo, ainda não está em vigor, mas essa ‘iniciativa’ dá o tom do que o governo entende por economia com os gastos públicos. São os cortes que incidem nos serviços que atendem ao povo, não aos aquartelados no poder. Ou em um palácio de três andares, 10 mil metros quadrados de área construída e 8 quartos (sendo 4 suítes), nenhum estava bom o suficiente para acomodar Michelzinho? Ele algum dia fará ideia de que existe gente que dorme na calçada?

O abismo que existe entre a realidade do povo e os representantes do poder é traduzido na existência – e no obsceno luxo – de palácios. São realmente necessários? Estamos no presidencialismo ou na monarquia?

A PEC 241 nada tem a ver com as necessidades práticas para o exercício da função de presidente, é obvio. E se Temer possui mulher, filho e o golden retriever Thor, que os leve junto para sua nova moradia. Porém é impossível não se lembrar a todo momento de medida tão demagógica e retrógrada em um governo como o de Michel Temer. Como já perguntou Kiko Nogueira neste DCM: que tipo de governo faz um banquete para aprovar corte no orçamento? Ou como bem lembrou Elio Gaspari: “Para que a PEC dos gastos públicos seja eficaz, ela precisa ter dentes afiados e disposição de morder, preferencialmente para cima.” Alguém acredita nisso?

A emenda constitucional só irá sangrar na carne do pessoal ‘de baixo’. Revoltante como há muito não se via, já vem causando estragos antes mesmo de entrar em vigor. Uma brilhante pesquisadora e coordenadora de estudos de saúde do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Fabiola Sulpino, pediu exonaração. Ela é autora de um estudo sobre o impacto negativo na área da saúde que a PEC irá proporcionar nos próximos 20 anos. Hoje já temos uma técnica competente a menos.

Como corre em um meme por aí na internet, se fosse aplicada a uma família, a PEC 241 seria uma medida que visa reduzir a comida dos filhos e cortar o remédio da vovó para que o pai continue tomando whisky. Diante do descalabro, talvez não seja o caso de sair dando uns tapas nos representantes do poder público como fez uma senhora com Eduardo Cunha, ontem. Mas essas Bastilhas em pleno século 21, que só servem para Micheizinhos e Marcelinhas precisam ganhar outra finalidade.