Entrevistamos Nayara Justino, a Globeleza afastada por ser ‘negra demais’. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 13 de fevereiro de 2016 às 11:15
'Negra demais'? Nayara
‘Negra demais’? Nayara

Nayara Justino é atriz, modelo, dançarina e ex-globeleza. Recentemente, ela denunciou, em uma matéria do The Guardiam, sua demissão da rede globo após ataques racistas do público. Segundo a matéria, Nayara foi substituída por ser “negra demais.”

Conversamos sobre racismo, mídia e empoderamento da mulher negra.

1. Você é uma atriz, dançarina e modelo de sucesso. Sabemos que a sociedade – especialmente os brancos – costuma mostrar-se incomodada quando uma mulher negra chega tão longe. Você sentiu isso ao longo da sua carreira? Em quais situações?

Senti na internet. Logo depois que fui eleita a globeleza. Mas preconceito existe em todas as sociedades e independe de cor, crédulo ou classe social.

2. Você vislumbra alguma perspectiva de mudança na abordagem da grande mídia em relação a artistas negros – papéis menos expressivos, naturalização do racismo, etc – em razão do levante do Movimento Negro e, especialmente, do crescente empoderamento da mulher negra?

Espero sim. Podemos contar boas histórias também e atrair ibope, que é o que de fato interessa. Não somente de histórias de época, favela, carnaval. Podemos aprender com produções estrangeiras. Onde o negro também é protagonista. Precisamos de mais “Xicas da Silva” modernas.

3. A globeleza é a representação da mulher negra sexualizada pela grande mídia. Como você avalia o futuro dessa tradição global racista?

Não acho que seja uma tradição global racista. Tenho muito orgulho de ter sido globeleza e das meninas que lá estiveram. É um trabalho bonito e feito com carinho. Acho que o racismo vem das pessoas que julgam. E luto por mais oportunidades para as mulheres negras em geral. Em todos os segmentos.

4. Você se manifestou sobre o racismo da grande mídia, recentemente, para uma matéria do The Guardian. Você sofreu algum tipo de represália?

Não. Vivemos em mundo moderno onde podemos e devemos expressar nossas opiniões.

5. Artistas que se propõem a lutar abertamente contra o racismo são, em geral, duramente criticados, e as tentativas de silenciamento são inúmeras – como no recente caso de Beyoncé, por exemplo. Você enxerga alternativas para essa realidade?

Alternativas já estão sendo adotadas. Vide os casos de Beyonce, Tais Araújo, Maju, Cris Vianna, Sheron e eu. Só para citar alguns. Estamos mostando a nossa cara e contribuindo para uma sociedade melhor. Que venham todos! Não precisamos esperar uma ofensa para reagir. É um tema que pode ser discutido por todos. Dentro de casa, nas escolas…

6. Que conselho você daria para pessoas brancas que desejam apoiar o movimento negro respeitando a questão do protagonismo? Para você, de que maneira isso é possível?

Acho que devemos nos unir mais enquanto sociedade. Menos egoísmo e mais união. Para mudar questões raciais, econômicas, sociais, enfim… Independe de cor, sexo, classe social e profissão.