“Éramos lindos”: os heróis da Lava Jato engoliram o choro depois das palmadas de Gilmar. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 26 de agosto de 2016 às 16:02
“Éramos lindos até o impeachment ser irreversível"
“Éramos lindos até o impeachment ser irreversível”

 

A frase do ano já foi proferida e é de um procurador que não quis se identificar à coluna Painel, da Folha.

Ele — porque só tem homem ali, como o ministério do interino — se referia às críticas que Gilmar Mendes, o rei do Brasil, fez à Lava Jato depois que um vazamento respingou no amigo Toffoli.

Anote: “Éramos lindos até o impeachment ser irreversível. Agora que já nos usaram, dizem chega”.

Podia ser de Lana Turner em algum bom noir. É quase um lamento sertanejo e uma trilha sonora ideal seria a linda canção de Gilberto Gil e Dominguinhos (“Eu quase não saio, eu quase não tenho amigos, eu quase que não consigo ficar na cidade sem viver contrariado”).

A confissão do rapaz — porque só tem rapazes lá — tem um grau de ingenuidade ou, se você também quiser, cara de pau.

Desde o início, há mais de dois anos, o partidarismo da operação comandada por Sérgio Moro ficou absolutamente claro. Nomeou-se um culpado — Lula —, uma cúmplice — Dilma — e, em torno deles, tentou-se criar uma teia de crimes, a imensa maioria “hipóteses”.

A Veja resumiu tudo naquela fantástica capa no fim de semana das eleições de 2014 (“Eles sabiam de tudo”). Depois era preencher os pontinhos.

Essa narrativa começou a ser quebrada com a delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que entregou Michel Temer e Aécio “o primeiro a ser comido” Neves. Depois ainda viria Serra. Não houve como conter os delatores.

Moro e seu time posaram de heróis, foram saudados em protestos, deram entrevistas, viraram popstars. De repente, desmiolados como Faustão e artistas que eles viam nas novelas estavam falando o nome deles e pedindo autógrafo.

Na ficção, eles iam acabar com a corrupção. Na verdade, estavam acabando com apenas um partido e uma candidatura. No caminho, ajudaram a apear do poder, numa fraude, uma presidente eleita democraticamente.

Feito o serviço, começaram a sumir do noticiário. Gilmar, que nunca deu um pio enquanto eles acusavam petistas, os chamou de “cretinos”, mandou-os calçar “as sandálias da humildade”, lembrou que “o cemitério está cheio desses heróis”.

Tio GM dá palmadas em seu traseiros e eles são obrigados a engolir o choro. Dormiram sobre os louros de uma fama vagabunda, alimentada pelos mesmos urubus que comeram e cuspiram Joaquim Barbosa.

Quando acordaram, estavam no Brasil. Agora não adianta chamar a mamãe.