O novo pornô feminista. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 19 de novembro de 2016 às 16:32
A cineasta sueca Erika Lust
A cineasta sueca Erika Lust

Há muito tempo a indústria pornográfica parece não enxergar a mulher como consumidora.

Os filmes mais comuns incluem entregadores de pizza sempre dispostos a transar e mulheres siliconadas que perpetuam o estigma da “mulher insaciável”: nada que nos cause identificação, e, sem identificação, o tesão é nulo ou falso.

Os roteiros toscos e closes ginecológicos do pornô mainstream são a ratificação do que nós já sabíamos: parece difícil para a indústria pornográfica compreender que os processos eróticos femininos existem e não necessariamente são iguais aos masculinos.

Além disso, parece difícil compreender que mulheres também consumiriam pornô acaso o pornô as visse como consumidoras – mas não dá pra ficar excitada vendo um filme em que nossos desejos são ignorados e nossa imagem não transcende a velha objetificação.

E isso é o mínimo, na verdade, se passarmos a falar dos tantos outros pontos problemáticos do pornô mainstream – como a perpetuação da cultura do estupro e dos estereótipos que vendem como aceitável a ideia de que enxergar as mulheres como objetos faz parte da sexualidade masculina.

A cineasta sueca Erika Lust encontrou uma nova maneira de fazer cinema erótico: uma abordagem sensível ao desejo feminino e que abraça a diversidade de corpos.

Os filmes fogem dos clichês fetichistas – a mulher que transa com o entregador, por exemplo – para aproximarem-se do que há de mais real em nosso tesão.

Tendo mulheres como protagonistas (mulheres reais, e não protótipos do imaginário masculino), o pornô feminista desconstrói a imaginação erótica violenta que o pornô mainstream construiu. Nele, as mulheres deixam de ser objetos para serem agentes de erotização.

O pornô feminista respeita os nossos corpos – eles são reais, e não idealizados- e notadamente se preocupa com um roteiro convincente, personagens bem construídos e uma fotografia bonita. Não se trata de um gatilho para a excitação, mas de uma produção erótica completa. O pornô feminista sabe que as mulheres do século XXI não gozam pela metade.

Em um um mundo em que existe Erka Lust (e outras cineastas como ela), o feminismo não precisa ser anti-pornográfico. Muito pelo contrário, aliás. A pornografia – em suas novas nuances, é claro – pode e deve ser uma maneira de nos empoderarmos e de construirmos uma liberdade sexual que de fato nos liberte, retirando-nos do lugar de objetificação que sempre nos foi destinado.