Erundina na Vila. Por José Cássio

Atualizado em 29 de agosto de 2016 às 9:42
Erundina na Vila Madalena
Erundina na Vila Madalena

 

Se é verdade que a voz do povo é a voz de Deus, e se levarmos em conta que os eleitores em geral não querem ver políticos nem pintados de ouro, a candidata do Psol à prefeitura de São Paulo, Luíza Erundina, está bem na foto. Pelo menos na Vila Madalena, reduto de intelectuais e principal bairro boêmio de São Paulo.

Acompanhei Erundina e seu pequeno grupo de correligionários – o vice, Ivan Valente, Muna Zyen, o ex-vereador petista Odilon Guedes, mais duas ou três assessoras, um fotógrafo e dois caras carregando bandeiras do Psol –  numa caminhada pela Feira de Artes da Vila na tarde deste domingo, 28.

Em quase duas horas, num trajeto de pouco mais de sete quarteirões, a deputada e ex-prefeita foi saudada, beijada, abraçada.

Sônia Maria Santos chorou ao encontrar Erundina.

– Eu trabalhava em creche municipal e fui demitida pelo Jânio, disse a aposentada. Quando a Erundina assumiu ela readmitiu todo mundo. Tenho dívida de gratidão por ela. Pela minha idade, 78 anos, não preciso votar, mas faço questão de apoiá-la, pois sei o quando é justa compromissada com o povo.

A candidata encara com naturalidade a boa recepção das ruas.

“Em todo lugar é assim”, diz. “O povo recebe bem e demonstra entusiasmo e simpatia com a nossa campanha”.

Credita a boa aceitação ao modelo que adotou, focado na integração e no dialogo com os eleitores. O que o Psol chama de “roda de conversa” é uma maneira direta de interegir com a cidade.

– O que a gente nota é que a população não quer falar de eleição, diz Erundina. O descrédito da classe política é enorme, ninguém acredita em mais nada. Estamos evitando o modelo tradicional. Convocamos a população a falar sobre política e sobre a cidade: os resultados são surpreendentes.

Em 1988, quando venceu a eleição numa virada histórica sobre Paulo Maluf, Erundina beneficiou-se do voto útil. Pergunto se ela vê paralelo entre aquele período e agora, considerando a descrença generalizada das pessoas.

– Eu penso que sim, e agora com uma vantagem, diz a candidata do Psol. A memória do nosso modelo de gestão, focado na descentralização e na prioridade em saúde, educação e transporte, está presente no imaginário das pessoas.

Erundina começa uma semana especialmente feliz e otimista.

Bem colocada na pesquisa do Datafolha, atrás de Russomanno (PRB) e Marta (PMDB), e à frente de Haddad (PT) e João Doria (PSDB), conseguiu êxito na sua batalha para participar dos debates.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu liberar sua presença caso seja convidada pelas emissoras, independentemente da boa vontade dos adversáios – no debate da Band foi vetada por Marta e João Doria. A RedeTV, cujo debate acontece na sexta, 2 de setembro, já confirmou a sua participação e a Globo está indo pelo mesmo caminho.

A ideia da candidata é tirar os adversários da zona de conforto e trazê-los para um debate mais amplo.

“Temos o quinto orçamento do país, 15% do PIB nacional e ficamos debatendo wi-fi em praça e pista de bicicleta”, diz ela. “Isso é importante, sem dúvida, mas o prefeito de São Paulo tem de ir além: precisa ter opinião sobre questões econômicas, influenciar e buscar soluções de emprego e renda, e principalmente radicalizar na participação social. Isso é o que vamos tentar colocar, ainda que os modelos sejam bem engessados”.

Numa eventual vitória, uma das prioridades é inverter a lógica dos investimentos públicos, visando diminuir as desigualdades sociais.

Ela cita como exemplo o bairro de Pinheiros, onde se realizou a Feira de Artes da Vila.

“Aqui temos um orçamento per capita de R$ 180 ano”, diz Erundina. “Para ficar num exemplo, em Cidade Tiradentes, lá no fundão da zona Leste, o orçamento é bem menos que isso, quase a metade. A obrigação do prefeito é enfrentar a situação e trabalhar para reduzir as desigualdades. Esse é o foco”.

Quando falamos, no início desse texto, que Luíza Erundina está bem na foto em Vila Madalena, não foi por acaso. A Feira de Artes do bairro é um tradicional espaço de proselitismo eleitoral, com presença de canditatos a prefeitos e vereadores.

Além de Erundina, só João Doria se aventurou a pedir voto por ali desta vez, mas de forma bem mais tímida. O candidato do PSDB acabou ficando nas proximadades de uma barraca montada pelo partido, sem ser percebido sequer pelos policiais da base da Polícia Militar.

Erundina, não. Foi às ruas, circulou, entrou em bar, conversou com as pessoas. Foi notada.

“De fato ela marcou presença”, me disse um PM, justificando o ambiente eleitoral asséptico. “Nem vereador distribuindo santinho eu vi por aqui”, finalizou o polícia.

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