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ÁUDIO: Doria orientou Ambev a inflar proposta para vencer concorrência por Carnaval

 

Da CBN:

O Carnaval paulistano reuniu 3,5 milhões de foliões, um recorde. O patrocinador teve exclusividade para expor a marca nos desfiles dos blocos de rua e para vender bebidas.

O edital, publicado ainda na gestão Haddad, estabeleceu que sairia vencedora a proposta com maior gasto em itens de interesse público, como segurança, limpeza, banheiros químicos e ambulâncias.

Em dezembro, a proposta da Dream Factory, agência contratada pela Ambev, foi escolhida porque as outras três concorrentes foram impugnadas. Mas uma delas, a SRCOM, parceira da Heineken, recorreu.

Em janeiro, a Comissão Avaliadora da Secretaria de Cultura decidiu recolocar a proposta da SRCOM na disputa, com o aval do secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura, Anderson Pomini.

O valor da proposta da Dream Factory foi de R$ 15 milhões. A da SRCOM, de R$ 8,5 milhões. Após um pente-fino, a comissão avaliadora viu que na proposta da Dream Factory apenas R$ 2,6 milhões eram itens de interesse público. Na da SRCOM, esses itens somavam o dobro, R$  5,1 milhões.

A comissão avaliadora, órgão legalmente responsável pela escolha, decidiu que proposta da Heineken era a melhor, mas a gestão Doria passou por cima da decisão.

A reportagem da CBN obteve um áudio de uma reunião entre funcionários da Secretaria de Cultura, entre eles a chefe de gabinete do secretário, e dois diretores da Dream Factory.

Nela, os representantes da empresa e a chefe de gabinete narram outra reunião na prefeitura em que o vice-prefeito Bruno Covas orienta os integrantes da Ambev e da Dream Factory a alterar os itens da planilha da proposta para justificar os 15 milhões e, assim, vencer a concorrente. Participaram desta reunião o secretário de Governo, Julio Semeghini, e o da Cultura, André Sturm.

O encontro aconteceu em 17 de fevereiro, véspera do pré-carnaval. Doria estava em Dubai, em viagem oficial. O áudio mostra que empresa e gestão ainda discutiam os valores da proposta 20 dias depois da escolha ter sido homologada.

Os integrantes da Dream Factory também reclamam que, àquela altura, não poderiam inflar os valores como, segundo eles, Sturm estava pedindo.

 

DIRETOR DA DREAM FACTORY 1 – A Ambev é a única que pode fazer o que o secretário (André Sturm) quer. Que é aumentar o valor. É a única…

CHEFE DE GABINETE – Isso, aumentar o valor, exatamente

DIRETOR 1 – E a Ambev vai querer envolver o prefeito nessa reunião. Eu acho que vai dar uma m… do c…

CHEFE DE GABINETE – Não tem problema. Mas o prefeito já voltou de Dubai?

DIRETOR 1 – Não sei, a gente vai envolver o prefeito ou o Bruno (Covas). Acho que não vai ser boa essa reunião.

CHEFE DE GABINETE – Mas o Bruno inclusive estava nessa reunião em que eles conversaram…

DIRETOR 1 – Ele lembra, o Bruno lembra.

DIRETOR DA DREAM FACTORY 2 – Ele deu a saída e saiu.

CHEFE DE GABINETE – Ah, ele não ficou?

DIRETOR 2 – Ele deu a solução para o André (Sturm), largou no colo do André…

CHEFE DE GABINETE – Aí ficou o (Julio) Semeghini, o secretário do governo?

DIRETOR 1  –  (inaudível) A Ambev…

DIRETOR 2 – (Tinha) a oferta de R$ 15 milhões (da Dream Factory) , a de R$ 8 milhões (da SRCOM), está dito no edital que você pode mexer nos escopos.

CHEFE DE GABINETE – Aí mexe nos escopos?

DIRETOR 2 – Aí ele (Bruno Covas) levantou e foi embora. Aí o André falou “Se eu perguntar oficialmente, vocês responderem oficialmente, eu resolvo.”

A reunião mencionada ocorreu no dia 20 de janeiro, no gabinete de Semeghini, antes da definição da empresa vencedora, e sem a presença dos membros da comissão avaliadora. A prefeitura confirmou o encontro.

No dia seguinte, a comissão, que até então defendia a escolha da SRCOM, se reuniu e redigiu uma ata em que descreve o acordo feito para a Dream Factory vencer. O texto foi publicado no Diário Oficial. Procurada, a SRCOM não quis se manifestar.

(…)