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Berzoini: “O PT aceitou o sistema de financiamento de campanhas tradicional”

Do ministro afastado das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, em entrevista ao UOL:

 

 

UOL – O senhor vê condições políticas de governabilidade à presidente Dilma caso o impeachment não passe no Senado?

Ricardo Berzoini – Governabilidade a gente constrói, não é algo estático. Obviamente que, com a decisão de se respeitar a democracia e não consolidar o golpe, e com base nas forças políticas que existem –e que fazem parte da representatividade que o eleitor conferiu no Congresso Nacional–, vamos dialogar com todas essas forças, como dialogamos antes. Mesmo o presidente interino não está tendo facilidade nas medidas que tenta tomar, ele não tem encontrado a facilidade tão grande que esperava na Câmara e no Senado. Ou seja: nenhum governo tem essa franquia, em nenhum país do mundo, de pedir as coisas e encaminhá-las sem ter que negociar, sentar, avaliar e reavaliar.

Além disso, defendemos a tese de que, dada a magnitude da crise política e econômica, e na hipótese de a presidenta vencer, faremos o diálogo sobre um plebiscito para que o povo decida. Achamos que em uma situação de tensão como essa, a única forma de repactuar o país é a participação popular –seja em nova eleição, ou reforma política. Esse modelo que temos está esgotado; nenhum governo consegue, de maneira transparente e positiva, organizar sua base parlamentar com essa quantidade de partidos, e partidos que não expressam claramente um programa do ponto de vista de propostas para o país. Ou a gente reconhece isso e toma providências, ou certamente viveremos crises cíclicas no país.

UOL – Em uma escala de zero a dez, onde o senhor colocaria as chances de o PT reverter no Senado o resultado obtido na Câmara? Por quê?

Berzoini – Não é o PT que está em questão, mas um conjunto de pessoas de vários partidos e até sem partido. Temos dois problemas para tratar: a democracia está em risco caso se consolide esse processo e haja o afastamento de uma presidenta eleita através de um processo em que não se consegue comprovar crime de responsabilidade. E outro problema é a instabilidade do país: a consequência disso é mais instabilidade.

Mas de qualquer maneira nós temos chances. Sabemos que é um quadro adverso e muito difícil, mas estamos realisticamente conversando com um conjunto de senadores que na pronúncia votou sim, mas estão em dúvida se devem votar assim no final. Conversamos com os parlamentares no sentido de colocar a eles a responsabilidade dessa votação: dependendo do que for decidido, podem entrar para a história como parte de um novo golpe para a democracia.

UOL – Dias atrás, cogitou-se que a presidente afastada determinaria a retirada do termo “golpe” da carta aos senadores sobre o processo de impeachment [o que não ocorreu, dias depois da entrevista]. O PT concorda com esse tipo de retirada?

Berzoini – Isso não procede. Na verdade, o que houve foi a ponderação respeitável, de pessoas de bem, sérias, de que a palavra “golpe” poderia citar uma animosidade por parte de alguns senadores que já votaram pela abertura processo.

Foi uma ponderação no sentido de que isso [a não menção a “golpe”] poderia estreitar o campo para constar apoios. No entanto, acho que é impossível, na minha opinião, negar tudo aquilo que foi já tratado inclusive na defesa brilhante do advogado José Eduardo Cardozo, de que houve um conjunto de articulações. Esse não é um processo em que as forças se moveram para punir um crime de responsabilidade; na verdade, se transformou em uma eleição indireta primeiro da Câmara, depois do Senado, onde abertamente os operadores do golpe falam “estamos conquistando votos”. Não estão disputando uma opinião: é uma disputa de poder, e a maior demonstração de que houve golpe é que o vice-presidente eleito na chapa com a presidenta se articula abertamente com a oposição que foi derrotada na eleição. Ou seja, se ele [Temer] tivesse se preservado e ficado em uma posição institucional, eu até poderia dizer “tem gente articulando o golpe, mas o vice não se move nessa direção”. Ele se move claramente, sem o menor pudor, na direção de consolidar o golpe.

(…)