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Corujão de Doria força idoso na madrugada e tem exame sem reavaliação médica

Do Estadão:

 

Enquanto conta sua história, o aposentado Elzo Batista de Oliveira, de 76 anos, toma fôlego diversas vezes. Não consegue falar muitas frases seguidas sem sentir cansaço e um pouco de falta de ar. Com problema pulmonar crônico que se agravou nos últimos meses, ele teve a indicação médica de uma tomografia do pulmão, mas estava na lista de espera do exame havia quatro meses. Foi um dos primeiros pacientes a ser chamado para o programa Corujão da Saúde, mutirão da gestão João Doria (PSDB) iniciado na terça-feira, 10, que promete acabar, em três meses, com uma fila de cerca de 485 mil pacientes.

A insatisfação do idoso ficou por conta do horário do exame. Embora o prefeito tenha prometido que priorizaria as marcações apenas no período da noite, entre 20h e meia-noite, quando ainda há transporte público e maior movimento de pessoas, seu Elzo foi agendado para a 1h20 no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na Bela Vista, a cerca de 20 quilômetros de sua casa, no Jardim João 23, extremo da zona oeste. Para chegar lá, o idoso precisou pegar ônibus e metrô, além de caminhar mais de um quilômetro.

“Acho que a Prefeitura devia olhar a idade das pessoas quando for marcar os exames para não expor um idoso a ficar na rua nesse horário, né?”, reclama. Seu Elzo saiu de casa com antecedência para poder pegar o metrô e chegou ao hospital por volta da 0h20. Ele queria esperar até as 4h40 a reabertura da estação para retornar para casa, mas a filha, que o acompanhava, achou que seria “judiar demais” do pai. “Instalei o aplicativo no celular dele, mas ele não sabe mexer e então eu vim junto para voltarmos de Uber”, conta ela, a analista jurídica Érica de Souza Oliveira, de 36 anos.

Assim como seu Elzo, muitos pacientes relataram dificuldades para chegar ao local do exame agendado na madrugada. A empregada doméstica Giracema Florinda de Sousa, de 38 anos, tinha exame marcado para as 2h22, mas decidiu sair de casa quatro horas antes por medo da violência. “Moro em um bairro muito perigoso, não ia ter coragem de sair de madrugada. Mesmo que tivesse uma linha de ônibus noturna, como está prometendo o prefeito, como fica o caminho que eu tenho que andar do ponto até em casa?”, questiona.

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