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Dificuldade nas urnas força PSDB a recalcular tamanho do partido

Não há mais como postergar o debate. Com a possibilidade de perder a eleição para a presidência da República pela quarta vez consecutiva (2002, 2006, 2010 e 2014) e de ficar fora do 2º turno pela segunda vez na história (a primeira foi em 89), o PSDB precisará ser repensado. Reconstruído em relação às lideranças e, principalmente, quanto ao futuro que se espera para a legenda. Essa é a opinião de parlamentares, sociólogos, cientistas políticos e acadêmicos, que têm discutido o assunto nos últimos dias.

O fato de uma legenda reestruturar projetos e estratégia de atuação após um pleito eleitoral pode até ser corriqueiro, mas a questão, no caso dos tucanos, é saber se eles terão poder para se manter como oposição a partir de 2015, se possuem lideranças suficientemente fortes para atuar pela sigla no Congresso Nacional e, sobretudo, se os arranjos firmados nesta eleição deixarão o PSDB mais voltado para o propósito de quando foi criado, na década de 1980, ou manterão o partido atrelado à direita, como tem sido observado mais recentemente.

“O PSDB estará numa encruzilhada depois de outubro. É uma legenda que não conseguiu vender a imagem de mudança. Seu discurso falou mais de restauração em si do que de mudança”, afirma o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB).

O acadêmico analisa que a situação dos tucanos nas eleições de 2014 é reflexo da incapacidade de se comunicar com a população e construir militância. “O fato de o PSDB não ir para o segundo turno quebra uma polarização com o PT. Além disso, a diferença de Aécio Neves para Dilma Rousseff indica que, apesar de os petistas estarem há 12 anos no poder, a população ainda tem uma rejeição maior ao PSDB do que ao PT. O partido terá de estudar novas estratégias de reconstrução, pois não tem militância, as decisões tendem a ser tomadas de forma restrita e elitizada e é observada nítida dificuldade de se criar um canal de comunicação com as pessoas, o que ficou bem claro nesta campanha”, ressalta.

Barreto é acompanhado no argumento por nomes de peso na história da elaboração do pensamento tucano. “O grande problema do PSDB é que o partido não conseguiu se articular como oposição durante os governos petistas”, enfatiza o filósofo José Arthur Giannotti – que já pertenceu à sigla e hoje se diz “tucanoide e não tucano.”

Intelectual bastante ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o historiador Boris Fausto também não mede palavras para apontar que o PSDB passa por um momento muito delicado. “O partido vive uma crise de liderança séria”, acrescenta

Entre os políticos integrantes da sigla, há quem avalie que a grande preocupação é a busca por lideranças nacionais e a consolidação das já existentes, uma vez que o PSDB não soube fazer novos nomes com condições para despontar no cenário nacional depois que deixou a presidência, em 2003, orbitando sempre em torno dos mesmos políticos e apresentando muito mais cisões do que pontos de consenso entre a bancada. Nas disputas presidenciais, repetiu duas vezes José Serra, apostou uma em Geraldo Alckmin e outra em Aécio Neves, todos nomes conectados, em maior ou menor grau, a correntes antigas da política.

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