Apoie o DCM

Esquerda brasileira perdeu as ruas porque é ruim na internet, diz ativista digital espanhol

Do sul21:

Convocadas por diversos movimentos sociais com atuação na internet, em 15 de maio de 2011, milhares de pessoas ocuparam a praça Puerta del Sol, em Madri, em protesto contra as políticas de austeridade impostas pelo governo espanhol. Após o ato, um grupo de pessoas decidiu passar a noite acampado no local, mas foi violentamente reprimido pela polícia.

Vídeos da ação policial viralizaram na internet e novos protestos foram convocados para o dia seguinte, espalhando-se rapidamente pelas principais cidades da Espanha. Surgia assim o movimento 15M, também conhecido como Os Indignados, que nos anos seguintes realizaria grandes mobilizações de massa e daria origem a partidos que mudariam o cenário político espanhol, sendo o principal deles o Podemos, responsável por ameaçar a histórica alternância do poder entre apenas dois partidos, o PP (centro-direita) e o PSOE (centro-esquerda).

Por trás do 15M, estavam uma série de ativistas digitais e intelectuais que, sem espaço na mídia tradicional, aproveitaram as redes sociais para conquistar espaço e dar um sentido para as mobilizações de massa.

Um deles, Javier Toret Medina, passou por Porto Alegre na última semana, onde participou de reuniões com a pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre Luciana Genro (PSOL) e conversou com o Sul21.

Toret explica que o 15M surge em um contexto de efervescência de discussão política na rede que vinha desde a crise econômica de 2008, que gerou a explosão do desemprego de jovens, e também contra a chamada Lei Sinde, que levava o nome da ex-ministra da cultura Ángeles González-Sinde e regulamentou o download de arquivos na internet. “Criou-se uma massa crítica na internet”, explica.

(…)

Em junho de 2013, o Brasil teve protestos semelhantes ao movimento dos indignados da Espanha. Apesar de, inicialmente, serem consideradas mobilizações à esquerda do governo do PT, as jornadas de junho, pelo menos até agora, não conseguiram fazer a transição de suas pautas das ruas para o campo político. Ao contrário, gradativamente, as ruas foram sendo disputadas e ganhas por movimentos conservadores e de direita.

Um dos motivos que explicaria o efeito seria a falta de organização na internet. Diferentemente da Espanha, a narrativa das redes sobre as manifestações não foram controladas por quem as estava organizando nas ruas. “Analisando os gráficos do Twitter sobre as mobilizações de junho, só aparece a direita. Das manifestações que ocorreram desde 2011, Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Espanha, Turquia, Hong Kong, Paris, o único lugar onde os gráficos mostram a direita na liderança das redes é o Brasil”, afirma Toret. “Também porque os movimentos de esquerda daqui são inúteis na internet. São muito ruins”, dispara.

Como problema de atuação nas redes, Toret cita, por exemplo, que o Movimento Passe Livre, que pode ser identificado como o principal desencadeador das mobilizações, sequer tinha um perfil no Twitter para expressar suas posições ou ao menos criar hashtags para difundir os atos. “Se só tivessem perfil, sem ter tuitado, teriam milhares de seguidores. Mas renunciaram. A direita pensou: ‘perfeito’”, afirma.