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Ex-procurador-geral da República diz que mídia é tendenciosa

Da BBC:

Primeiro procurador-geral da República nomeado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Claudio Lemos Fonteles não vê fundamentos jurídicos nas recentes ações do Ministério Público contra o líder petista – tanto no caso do pedido de prisão preventiva solicitada por três promotores de São Paulo, quanto na condução coercitiva pedida pela Força Tarefa da Operação Lava Jato, que acabou autorizada pelo juiz Sérgio Moro.

Lula foi nomeado na quarta-feira como ministro-chefe da Casa Civil, o que transfere futuras decisões judiciais sobre ele para o Supremo Tribunal Federal.

Fonteles não foi uma escolha pessoal do ex-presidente. Ele foi nomeado por Lula como procurador-geral da República em junho de 2003, seguindo a recomendação da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que realizou uma eleição dentro da categoria.

Em entrevista à BBC Brasil concedida na segunda-feira por telefone, ele recomendou “cautela” a procuradores e promotores para evitar “açodamento” nas suas ações. Segundo Fonteles, o Ministério Público “deve conduzir, e não se deixar conduzir” pelos jornalistas.

Na sua visão, “a imprensa é seletiva” ao não dar o mesmo destaque para supostas irregularidades cometidas por outros políticos, e os investigadores “não podem se deixar levar por esse espiral de informações midiáticas todo dia”.

Críticas nessa linha foram publicadas no domingo também em seu blog pessoal. Em artigo escrito junto com Alvaro Augusto Costa, ex-presidente da ANPR, Fonteles diz que promotores e procuradores “devem ter bem presente que o trabalho institucional não condiz com arroubos espetaculares, protagonismos em demasia, exaltações midiáticas e prejulgamentos”.

Apesar dessas críticas, Fonteles elogia a atuação geral da Lava Jato, operação que investiga o esquema de corrupção na Petrobras e completa dois anos nesta quinta-feira. Ele refutou qualquer motivação política por trás das investigações.

“Não, respondo categoricamente que não. Não há perseguição (política do Ministério Público). Seletividade sim, que é da imprensa. A seletividade está vindo da mídia”.

Ao apontar essa suposta seletividade da imprensa, Fonteles citou o caso revelado recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo de que Fernando Henrique Cardoso teria usado uma empresa no exterior – Brasif S/A Exportação e Importação – para enviar recursos para a jornalista Mirian Dutra, com quem o ex-presidente manteve um relacionamento extraconjugal nos anos 1980 e 1990. A acusação partiu da própria Dutra; o ex-presidente nega.

“Por que não continuou o caso FHC? Sumiu. Foi um dia e depois acabou. Por que não se continua com relação a outros políticos que estão aí?”

(…)